O Globo
Paulo Guedes não falou em congelamento de
preços. Talkey? Sejamos exatos. Travamento — foi o que propôs. Trava! Ele
prescinde do gelo. Vamos sem analgesia. Palestrou:
— Nova tabela de preços? Só em 2023. Trava
os preços! Vamos parar de aumentar preços aí. Dois, três meses. Nós estamos em
uma hora decisiva para o Brasil.
Avalie-se a carga de uma fala como esta:
— Vamos parar de aumentar preços aí.
Ele constrange. Registra, porém:
—É tudo voluntário.
Convite aos supermercadistas patriotas.
(Mas que não se esqueçam: a Petrobras está sob intervenção.)
Está desesperado. Nada a ver com o futuro
da economia brasileira. Apela, agora terceirizando, para um conjunto de
puxadinhos — “mais Brasília, menos Brasil” — capaz de forjar baixa artificial
da inflação até o fim de outubro. É guerra.
Nesse esforço de guerra, pretende-se gastar, em subsídios, uma Eletrobras — talvez mesmo duas, considerado o volume de renúncias fiscais. Daqui até o fim do ano, pelo menos R$ 30 bilhões para subsidiar indiscriminadamente, entre outras derramas eleitoreiras, a gasolina; a gasolina de quem tem dinheiro sobrando. Flávio agradece.
Bolsonaro, presidente do governo gambiarra, havia conclamado os caminhoneiros a
fiscalizar os preços dos combustíveis nas bombas. Guedes constrange
supermercadistas a segurar reajustes nas gôndolas. O ministro da Economia
armando uma adaptação do mantra bolsonarista: “Deixem os custos em casa. A
conta a gente vê depois”.
O estelionato eleitoral é explícito na
forma do horizonte: os aumentos a ser represados por dois, três meses. Só isso,
pessoal. Voo de gado. Represamento até as eleições — é o que se está pedindo. E
depois a gente vê. Depois a gente paga, os mais pobres sobretudo. A gente sabe:
a inflação que ora se quer reduzir, contratando endividamento, a mostrar mais
dos dentes — rompida a barragem — no ano que vem, mais longa a ser a depressão
dos juros altos.
A incompetência é circular. Idem, a
molecagem. O ministro da Economia de um presidente cuja fabricação de
instabilidades é o único fator estável a compor a inflação que nos sufoca
pedindo a empresários que, nas palavras de Bolsonaro, tenham “o menor lucro
possível” para que esse gerador de imprevisibilidades, gerador de carestia,
possa ser competitivo em outubro e continuar em sua gestão corrosiva do
equilíbrio republicano. A política faz o preço. O que faz o conflito?
O pedido de Guedes é por uma existência
fora do mundo real; para um efeito devastador concreto e realmente duradouro.
É o que se pretende fazer — três meses à
parte da realidade — na Petrobras sob intervenção do liberalismo à sachsida.
Embolar a troca no comando de modo que uma companhia paralisada, com a
ex-direção em atividade deslegitimada, não tenha força para mexer em preço.
Interdição a ser tocada, completada, pelo caio que afinal a assumir. Empurra;
depois solta.
— Nós estamos em uma hora decisiva para o
Brasil.
Traduza-se Guedes, porque o ministro há
muito fala bolsonarês castiço. “Nós estamos em uma hora decisiva para a
reeleição de Bolsonaro”. Aquela noção populista de que o país, o povo
brasileiro, é o governo — o interesse do governo. O povo quer queimar R$ 50
bilhões para que o orçamento secreto continue protegendo a família brasileira.
Um pouco mais do desespero de Guedes,
agente indutor ele próprio para a persistência da inflação entre nós, aquele
que achava que dólar alto não seria de todo mau, que acreditou — apostou — no
fim da pandemia (não haveria segunda onda) ao final de 2020 (com o que o
governo negligenciou a compra de vacinas) e que destelhou o teto de gastos
avaliando que o descalabro fiscal não concorreria para a disparada dos preços:
— É hora de dar um freio nos preços.
Empresários precisam entender que temos que quebrar a cadeia inflacionária.
Freio. Até as eleições. Freio. Não
congelamento. Talkey? Os empresários precisam entender que temos de maquiar a
cadeia inflacionária por três meses — e que a forma de fazer isso é abrindo mão
de lucros de maneira a subsidiar o humor do consumidor que andava pagando 20
guedes no quilo do tomate.
Atenção para o uso do verbo precisar pelo
ministro em sua pregação por represamento. “Empresários precisam entender que
temos de quebrar a cadeia inflacionária.” Informa muito sobre sua noção de
adesão voluntária. E é eloquente sobre a forma como o governo repassa aos
outros suas responsabilidades. Sejamos óbvios: Guedes pede — intimida? — que
empresas privadas financiem a blitz pela reeleição de Bolsonaro.
Voltou o financiamento empresarial de
campanha?
Os empresários ainda têm escolha. (Ainda.) Você, não. Você pode não votar em Jair Bolsonaro, mas é doador compulsório da campanha dele.
2 comentários:
É incrível como você jornalistas perderam a noção da ética profissional em campanha declarada por um bandido corrupto condenado questão não governo que até agora nada foi provado de problemas que estamos crescendo mais do que a média de todos os países do mundo e vocês querem o ladrão de volta que Deus tenha piedade de nós e principalmente de vocês
E viva Carlos Andreazza!
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