terça-feira, 14 de junho de 2022

Marlon Cecilio de Souza*: Os gargalos do Rio

O Globo

Os estorvos na mobilidade urbana noticiados, quase diariamente, pelos meios de comunicação são consequência tanto de uma série de erros passados irreversíveis como da ausência de um planejamento contínuo e concreto, que vise a atenuar o caos do transporte na capital fluminense. Em 2021, a empresa israelense Moovit publicou uma pesquisa em que apontava o Rio como a pior mobilidade do país. Entre as reclamações dos passageiros, estão a superlotação, o tempo de espera e a falta de informação.

O Estado do Rio e sua capital sofrem duas crises internas antigas, que contribuíram para a falta de políticas públicas e infraestrutura urbana de médio e longo prazos:

1) a herança deixada pelas péssimas gestões públicas consecutivas;

2) a crise estrutural iniciada na década de 1970, após a fusão do Estado do Rio de Janeiro com a Guanabara, decorrente da transferência da capital para Brasília, que culminou numa gradual perda de riqueza.

Além disso, houve os impactos advindos das políticas em prol da implementação de um projeto nacional que visava à abertura de rodovias. A confiança nos automóveis levou a um lento e gradual desmantelamento da malha ferroviária.

As privatizações do metrô e dos trens, no fim da década de 1990, foram um alento e previam uma série de investimentos conjuntos do estado e das concessionárias. No entanto o progresso foi marginal e se restringiu à troca das composições por outras mais modernas, inseridas no mesmo contexto de dificuldades.

Apesar de ambos terem muitos problemas operacionais, os contratempos diários da SuperVia se destacam. A operadora dos trens urbanos do estado ajuizou um pedido de recuperação judicial, posteriormente aprovado pela Justiça do Rio, que reflete um pouco as limitações para lidar com a duradoura crise operacional.

Outro sistema de transporte coletivo que é símbolo da ineficiência da mobilidade no Rio são os BRTs. Com objetivo de ser construído para a Olimpíada, o projeto caiu nas graças do poder público devido a custo e tempo de implantação serem bem menores que para metrô ou monotrilho. Foi uma tentativa de driblar os problemas financeiros e de planejamento históricos.

No primeiro momento, o serviço mostrou comportar parcialmente a demanda da população. No entanto, após seguidos anos de má gestão e falta de fiscalização, tornou-se um pesadelo para os usuários.

As previsões da herança que a Olimpíada deixaria ao Rio de Janeiro passaram bem longe da atual realidade. Pelo contrário, as inversões de prioridades no “jeitinho brasileiro” para “inglês ver” não entregaram a expansão e a integração inicialmente prometidas e deixaram uma série dos mesmos problemas que afetam em cheio outra mobilidade, a social, e provocam um atraso lamentável no bem-estar da população.

*Economista, é especialista em política e sociedade pela Uerj

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Parece que tudo é pior no Rio.