Em geral, os países entenderam que o caminho era gerenciar a crise econômica mesmo quando produziram divergências políticas sobre como equilibrar a necessidade para controlar a propagação do vírus com as perdas econômicas causadas pela política sanitária. Eles programaram grandes pacotes de apoio fiscal para garantir as trabalhadoras e os trabalhadores desempregados. Os Bancos Centrais rapidamente desenharam políticas monetárias que deram garantias de liquidez aos mercados. As lições da crise financeira global de 2008 ainda estão frescas nas mentes de muitos gerentes de política econômica.
Pelas experiências vividas até aqui podemos
indicar três projeções de como a pandemia pode moldar nosso futuro econômico
comum. Primeiramente, a dívida corporativa (medida em relação ao PIB) segue no
mais alto nível nesses últimos 150 anos em muitas economias. Uma onda de
falências causadas pela pandemia vai empurrar economias para outra crise
financeira? Provavelmente não. Em segundo lugar, como tem sido possível conduzir
as quedas na economia pelo combate a pandemia? Essas quedas reduzirão o
potencial de crescimento da economia do que o estimado. Em terceiro lugar, o
que as pandemias nos ensinaram sobre as perspectivas econômicas, décadas depois
da pandemia? É provável que a taxa de juros fique deprimida por muitos anos,
com implicações importantes para política fiscal e monetária.
As pandemias ocorrem muito raramente
(algumas vezes num século, em média), o que faz do aprendizado histórico desse
passado especialmente difícil, ainda que não impossível. Nos primeiros dias da
pandemia do covid-19, os pesquisadores mobilizaram as lições das respostas econômicas
aos desastres naturais, como furacões, terremotos, inundações, entre outros. Além
desses se trouxe à baila os a metáfora dos conflitos armados, que no passado
causaram grandes perdas de vidas. Mas elas estavam corretas? Essas comparações
fizeram sentido? Foram um guia útil para o presente as lições aprendidas com
tais eventos? Argumentamos em junho-julho de 2021 que as melhores experiências
não tinham aderência a esses cenários, e para não voltarmos a 700 anos, houve percepções
de gestão de crises sanitárias mais bem sucedidas como a que aconteceu no
século XIX em Hamburgo com o Partido Social-Democrata da Alemanha.
Assim, os três principais fatores que elencamos
para se projetar como a pandemia de covid-19 em curso e suas sequelas podem
afetar a situação econômica futura devem ser entendidas de forma diferenciada e
democrática. Pelo lado positivo, os balanços domésticos relativamente saneados e
uma regulamentação financeira mais rigorosa advindas da crise de 2008 sugerem
que o risco de uma crise financeira pode estar contido apesar do boom da dívida
corporativa. Do lado mais negativo, como a pandemia deprimiu a demanda ao longo
desse período nascido em 2020, trará consequências nas capacidades de produção
futuras e a economia provavelmente será afetada. Também a incerteza que ainda
persiste quanto ao manejo final da pandemia ainda não presente no horizonte atua
como mais um lastro na demanda que reforça este mecanismo.
As implicações nas políticas econômicas ainda
se encontram em modo provisionado. Podemos entender isso de modo sucinto. Do
lado fiscal (e deixando de lado a questão de como projetar a melhor política
fiscal para resolver as necessidades da pandemia e suas sequelas), a realidade
é que a dívida pública vai crescer consideravelmente em todo o mundo. É
provável que muitos governos sintam a necessidade de aparar e consolidar suas
contas públicas. Mas fazer isso implica numa conduta prematura e o risco de afundamos
a economia global numa depressão é real. Por ora os governos democráticos estão
em melhor posição para resistir a níveis mais altos de endividamento e acompanhando
e estimulando a recuperação na expectativa de que ela tome conta do cenário
(ainda que não haja evidências para isso). Da mesma forma, se a dinâmica
econômica permaneça baixa (mesmo que não caia muito mais), os Bancos Centrais
terão mais tempo para colaborar para que se tente a recuperação da economia antes
de moderar o grau de acomodação atual. Além disso, é improvável que as economias
deprimidas pela pandemia possam seguir colocando muita pressão sobre inflação
de curto prazo. Inclusive se o custo da inflação tem uma incidência desigual, a
forma mais segura de ajudar aos mais necessitados é manter o tom acomodatício
durante mais tempo. De todo modo está claro que a história das pandemias desde à
Peste Negra segue oferecendo lições úteis e a principal é que a melhor condução
delas e suas sequelas é a democracia.
*Professor do Instituto Devecchi, da Unyleya Educacional e da UniverCEDAE
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