O Globo
Entre a incompetência e a urgência, assim
vai o governo gambiarra de Bolsonaro. A urgência é por permanecer no poder. Não
por criar mecanismos para proteger os mais pobres da mordida da inflação. A
incompetência exprime-se na incapacidade de propor soluções equilibradas. Quer
permanecer no poder uma galera que não gosta do batente. Não gosta do batente e
é ruim de serviço. Que não se menospreze, porém, a indústria do puxadinho.
Bolsonaro nunca trabalhou e chegou a presidente da República; isso depois de
haver erguido bem-sucedida empresa familiar dentro do Estado. Nós temos pagado
a conta desses biscates.
Bolsonaro nunca trabalhou, mas é sócio de
um grupo parlamentar que sabe trabalhar — e sabe o que quer.
O governo gambiarra maneja com o tempo para criar urgências, fatos consumados, e promover, abraçar, jeitinhos. Abraçar — embarcar — mais que promover. O Planalto e seus associados do consórcio Ciro Nogueira/Arthur Lira/Valdemar Costa Neto só se preocupam com o projeto de reeleição. E o governo opera enrolando para que o Congresso, no limite, resolva. Todo o circo — o carrossel — de especulações para enfrentar o custo dos combustíveis gira para voo de galinha, até o fim das eleições, e tem um só interesse: subsídios. Levantar fundos para distribuir subsídios que resultem em queda circunstancial no preço do diesel — se possível, também da gasolina.
Subsídio é recurso fácil de explicar e de
sentir em ano eleitoral. A turma quer segurar o preço — quer baixar o preço —
até novembro; e que se exploda depois. São duas jogadinhas em curso. A
primeira: ficar agarrado, embromando, no processo para troca do CEO da
Petrobras. Aposta-se em esticar os dias, de repente dois meses, de um trâmite
de substituição em que o presidente atual da companhia vai enfraquecido,
deslegitimado o atual conselho, pendurada a diretoria — período em que não
haveria condições políticas de repassar custos. Represamento que se empurraria
com a barriga, empossado o novo comando da petroleira, até a eleição. Solução
moleque.
A segunda jogadinha: remendar para que,
contornada a lei eleitoral, forje-se o veio legal que fará os subsídios
chegarem ao eleitor. Este O GLOBO trouxe que o interventor (na Petrobras) Paulo
Guedes já teria R$ 25 bilhões reservados para derramar. Os
liberais-que-paralisam-empresa-de-capital-aberto informam que dinheiro há, dada
a folga fiscal proporcionada pela arrecadação em alta. Guedes e seus
liberais à sachsida querem
usar a grana proveniente, em grande parte, do imposto inflacionário para
combater a inflação.
Restaria a barreira do teto de gastos, com
que fingem ainda se preocupar — preocupados com o teto que eles mesmos
destelharam. Ok. Formalmente, o teto ainda se arma. E, como Bolsonaro quer dar
reajuste salarial ao funcionalismo, nunca foi possibilidade decretar estado de
calamidade. Mas a rapaziada quer créditos extraordinários. Sem calamidade, com
créditos extraordinários. Como faz? Como se arruma?
Falou-se numa PEC, nos moldes da
Emergencial, uma pernada na Constituição que, pervertendo projeto originalmente
fiscalista, empurrou os rigores do palestrante Guedes para 2025 e abriu os
cofres para o desaguar de R$ 44 bilhões. Era março de 2021, e os dinheiros
vinham para reativar o auxílio emergencial que o governo deixara morrer em
dezembro de 2020, acreditando que a pandemia acabaria na virada do ano. Havia a
incompetência. Também a urgência. A urgência se impôs.
E agora? Onde está a emergência, se os
faniquitos de Bolsonaro contra o preço dos combustíveis remontam, pelo menos,
ao começo de 2021, demitido Roberto Castello Branco em fevereiro daquele ano?
Qual a urgência, em junho de 2022, se o governo teve — pelo menos — mais de ano
para formular gatilhos estruturais amortecedores de preço e preferiu bater
pezinho?
Falta a emergência. Falta também a
competência para liderar a costura por uma emenda constitucional. O tempo é
curto. Falta competência no governo. Sobra capacidade nos sócios. E então o
Planalto a torcer para que Lira, parte interessada, tome a frente e faça acontecer.
Não é sempre assim? O presidente da Câmara, tratorando, conseguiria fabricar a
“imprevisibilidade” necessária para justificar créditos extraordinários.
Competências desniveladas à parte, a
urgência iguala os parceiros. O arranjo está muito ajeitado. A emergência é a
dos sócios, pela reeleição. Créditos extraordinários, pagos por nós, como
investimento societário em mais quatro anos de orçamento secreto — pago por
nós. E que não se descarte uma Medida Provisória para abrir os créditos —
bandalheira preguiçosa mais consistente com o governo gambiarra.
Guedes topa. Está fechado com Bolsonaro. A divergência com os sócios pegando na percepção, entre liras e nogueiras, de que a paixão do ministro pela causa não bastaria. O homem veste a camisa, mas é ruim de serviço.
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