terça-feira, 7 de junho de 2022

Vera Magalhães: Imprensa livre é sinônimo de democracia

O Globo

É sintoma preocupante do grau de corrosão do tecido institucional a que assistimos que seja necessária uma ação do Consórcio de Veículos de Imprensa neste dia 7 de junho questionando se a democracia sobrevive sem liberdade de imprensa. Por outro lado, é sinal da vitalidade e do alerta da imprensa com esse avanço sobre as liberdades que essa campanha esteja sendo veiculada em conjunto, em alto e bom som.

Nunca os ataques ao exercício do jornalismo profissional foram tão sistemáticos e violentos, e são coordenados pela principal autoridade do país, como agora. Jair Bolsonaro figura como o autor da maior parte das agressões a órgãos de imprensa e a jornalistas, na pessoa física, nos dois últimos anos em balanço feito pela Federação Nacional dos Jornalistas.

Trata-se de um método que ele não inventou, mas que usa como ninguém ousou desde a redemocratização. Atentar contra a credibilidade do jornalismo profissional é uma das lições básicas do manual internacional dos candidatos a autocratas, é uma condição essencial para minar os pilares que formam o estado democrático de direito.

Bolsonaro faz isso ao mesmo tempo em que traveste de “jornalismo” uma milícia digital a serviço justamente desses ataques às instituições, e trata a necessária contenção desses crimes contra a democracia como cerceamento da liberdade de expressão.

Para o público leigo e muitas vezes convertido, a confusão de conceitos faz com que se deixe de dar valor à imprensa profissional, aquela que checa as informações, publica o contraditório e responde legalmente por aquilo que veicula. Esse desgaste já é medido em pesquisas, para além dos discursos de ódio e ameaças a jornalistas que proliferam no ambiente virtual e também fora dele.

Não é a primeira vez que um político ou um grupamento político investe contra a imprensa. Ataques acontecem em maior ou menor grau toda vez que interesses são contrariados por meio de reportagens ou artigos de opinião.

Mas não há precedentes em termos de violência, frequência e, sobretudo, protagonismo do poder constituído nesses ataques.

São muitas as frentes em que as garantias e direitos fundamentais sacramentados na Constituição estão sendo postos abaixo por este governo, o mais daninho à democracia desde a abertura. Que a liberdade de imprensa seja um dos mais visados mostra justamente a importância do jornalismo como farol a iluminar todas as outras violações. Vamos com a luz acesa e os olhos abertos, mas a sociedade também precisa saber que quando a liberdade de imprensa cessa é ela quem padece.

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Adoro a imprensa.