Lula fala em revogar o teto de gastos e reforma trabalhista; Bolsonaro aposta em agendas de Paulo Guedes, com privatizações e criação de um fundo para aumentar investimentos em infraestrutura
Por Bianca Gomes, Sérgio Roxo e Manoel
Ventura / O Globo
SÃO PAULO e BRASÍLIA - Em meio à disparada
da inflação, os dois pré-candidatos à Presidência da República mais bem
colocados nas pesquisas, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Jair Bolsonaro (PL),
aceleraram a divulgação de suas principais propostas para a área econômica.
Enquanto Lula fala em revogar
o teto de gastos e a reforma trabalhista, Bolsonaro aposta em aprofundar
agendas do ministro da Economia, Paulo Guedes — quadro que ele garante manter
num eventual segundo mandato —, com privatizações e criação de um fundo para
aumentar investimentos em infraestrutura e programas de transferência de renda.
A coordenação da pré-campanha de Lula e
Geraldo Alckmin (PSB) apresentou as diretrizes para a elaboração do programa de
governo aos sete partidos que devem compor a coligação (PT, PCdoB, PV, PSOL,
PSB, Solidariedade e Rede). Com 90 itens, o documento propõe a revogação da
reforma trabalhista, sem a retomada do imposto sindical, além do fim do teto de
gastos. As duas medidas foram implantadas pelo governo Michel Temer (MDB).
É prevista a retomada da política de valorização do salário mínimo, que vigorou nos governos petistas. O documento também cita a necessidade de implantação de um programa Bolsa Família renovado e ampliado. “Um programa que, orientado por princípios de cobertura crescente, baseados em patamares adequados de renda, viabilizará a transição por etapas, no rumo de um sistema universal e uma renda básica de cidadania”, diz o texto.
Coordenadas pelo ex-ministro Aloizio
Mercadante, as diretrizes se opõem de forma direta às privatizações da
Petrobras, da Eletrobras e dos Correios, defendendo o papel das empresas
estatais na promoção do desenvolvimento. Menciona ainda fazer uma reforma
tributária com elevação da taxação sobre “os muito ricos” e combate à sonegação
de impostos.
Após a aprovação pelas sete legendas, o
documento será publicado na internet por um prazo de 30 dias para receber novas
sugestões.
Mesma cartilha
Considerado fiador econômico do então
candidato Bolsonaro em 2018, Guedes foi escalado para elaborar as propostas da
campanha. Em entrevista ao canal AgroMais, o presidente afirmou ontem que o seu
“Posto Ipiranga” ficará no cargo, mesmo admitindo que existem pressões para
tirá-lo da pasta.
— Com toda a certeza, sim (Guedes fica no
governo). Depende dele. Eu o vejo cansado de vez em quando, o que é natural. De
vez em quando, alguns querem que eu troque, para resolver certos assuntos. Eu
prefiro conversar com eles (que defendem a troca) e, dentro daquela lealdade
mútua que nós temos, mudarmos alguma coisa e prosseguir nessa luta — disse
Bolsonaro.
Guedes tem dito que o programa de Bolsonaro
é “o mesmo” do primeiro mandato, só que aprofundado”. Nos últimos dias, por
exemplo, o governo começou a falar abertamente da privatização da Petrobras —
algo que sequer era cogitado no começo do mandato. Isso ocorreu diante da
pressão criada sobre o governo por causa da alta do preço dos combustíveis. Mas
o próprio presidente admite que o processo de privatização deve demorar em
torno de quatro anos.
O ministro também quer criar um fundo para
aumentar os investimentos em infraestrutura e turbinar programas de
transferência de renda. A ideia de Guedes é usar a receita com a venda de
estatais para abastecer esse fundo, e usar os recursos para obras e ampliação
do Auxílio Brasil (substituto de Bolsonaro ao Bolsa Família).
No atual mandato, o governo está prestes a
privatizar a Eletrobras, o que deve ser o principal símbolo nessa área. Medidas
como a reforma administrativa, a tributária, e a privatização dos Correios, que
pouco avançaram no Congresso, também estão na lista de desejos de Guedes para
um eventual segundo mandato. O ministro da Economia defende ainda a tributação
sobre lucros e dividendos, acompanhada da redução do Imposto de Renda das
empresas. Um projeto nesse sentido, que também ajusta a tabela do IR da pessoa
física, chegou a ser aprovado pela Câmara, mas não andou no Senado.
No campo tributário, faz parte da lista de
propostas a desoneração da folha de pagamento das empresas — acompanhada de um
imposto para compensar a redução dos encargos trabalhistas. Além disso,
pretende insistir na capitalização da Previdência, derrotada Na reforma de
2019. Esse sistema prevê uma “poupança” individual para cada trabalhador,
garantindo pelo menos um salário mínimo.
Bolsonaro também disse ontem que, caso seja
reeleito, três ministérios podem ser recriados: de Segurança Pública; Indústria
e Comércio; e Pesca.
No caso do pedetista Ciro Gomes, o
economista Nelson Marconi é um dos principais assessores. O plano de governo
prevê a retomada do investimento público e das concessões de obras de
infraestrutura logística e social, além da promessa de criação de cinco milhões
de vagas de emprego nos dois primeiros anos de governo.
Ciro coloca como fundamental a aprovação de
uma reforma tributária e fiscal, com redução de subsídios e incentivos fiscais
em 10% no primeiro ano e recriação de imposto de renda sobre lucros e
dividendos distribuídos. Ele também quer juntar cinco impostos (ISS, IPI, ICMS,
PIS e Cofins) em um único.
O pedetista propõe ainda o refinanciamento
do endividamento privado de famílias e empresas e a instituição do Código
Brasileiro do Trabalho, em substituição à CLT, que possibilite a retomada do
papel da negociação entre trabalhadores e empregadores.
Para combater a desigualdade social, ele
quer implantar o programa de renda mínima universal, que unirá três programas
existentes: Auxílio Brasil, Seguro Desemprego e Aposentadoria Rural.
O legado Temer
A senadora Simone Tebet (MDB-MS), por sua
vez, escolheu a economista Elena Landau para coordenar seu plano econômico. Ao
contrário de Lula, a emedebista defende legados do governo Temer, como o
próprio teto de gastos, além do avanço nas votações das reformas administrativa
e tributária.
A senadora tem dito que optará por um
projeto liberal, com foco no combate à miséria, e fomento da economia verde.
Uma das inspirações para o futuro programa de governo é o texto da Lei de
Responsabilidade Social, de autoria do senador Tasso Jereissati (PSDB), tucano
cotado para a vaga de vice. O projeto prevê a criação de metas de redução de
pobreza de curto, médio e longo prazo. Segundo Tebet, é preciso ter um programa
de transferência de renda permanente, mas com porta de saída e qualificação a
jovens, mulheres e desempregados.
Apesar de ter votado contra o projeto que abre caminho para a privatização da Eletrobras, a senadora se diz favorável à medida, mas alerta ser necessário acabar com os “jabutis” da Câmara. Defensora de parcerias público-privadas e de concessões, ela afirma ser contra a privatização da Petrobras e sustenta que o Estado deve se concentrar no que é de soberania nacional.
Um comentário:
De projetos e boas intenções o inferno está cheio,rs.
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