sexta-feira, 19 de agosto de 2022

Ruth de Aquino - Os crimes de responsabilidade de Bolsonaro

O Globo

Na mira implacável de Alexandre de Moraes

Não faz muito tempo. Menos de um ano. O ministro Alexandre de Moraes, hoje comandante de nossas eleições, foi xingado abertamente, em discurso na Avenida Paulista, pelo presidente Jair Bolsonaro no dia 7 de setembro de 2021. “Qualquer decisão do senhor Alexandre de Moraes, esse presidente não mais cumprirá. (...) Ele tem tempo ainda de pedir o seu boné e ir cuidar da sua vida. Ele, para nós, não existe mais. Ou esse ministro se enquadra ou ele pede para sair. Ele tem tempo ainda para se redimir, tem tempo ainda de arquivar seus inquéritos. Sai, Alexandre de Moraes. Deixa de ser canalha”. Um mês antes, em agosto, Bolsonaro pediu o impeachment do ministro.

É sempre bom lembrar. O Brasil teima em ter memória curta. Seja lá qual for a persona que o presidente assumir nesta reta de chegada até outubro, não podemos esquecer que enfrentamos quatro anos de crimes de responsabilidade, um após o outro. Xingar um juiz do Supremo e afirmar que não obedecerá ao Poder Judiciário é crime de responsabilidade. Reunir embaixadores, com verba pública, para mentir sobre as urnas eletrônicas e caluniar o próprio país é crime de responsabilidade. Vazar dados sigilosos de inquérito da Polícia Federal é crime de responsabilidade. Negar a gravidade da Covid-19, depreciar a máscara e as vacinas, promover remédio inútil e zombar do sofrimento das famílias é crime de responsabilidade. Associar a vacina da Covid à contaminação pelo vírus da Aids é crime de responsabilidade. Propagar fake news é crime de responsabilidade.

Temos um serial killer da responsabilidade no Palácio do Planalto. Imune por obra e desgraça dessa Câmara e dessa Procuradoria Geral da República, omissas e cúmplices. Alexandre de Moraes não sucumbiu. Ao contrário, cresceu como fiador da democracia e entregou pessoalmente o convite a Bolsonaro para a cerimônia de posse. Não pediu o boné, não caiu na armadilha da vulgaridade, reagiu com firmeza e elegância a todos os ataques, e transformou a protocolar passagem de bastão no TSE numa solenidade histórica.

Nada de palavras desnecessárias ou ininteligíveis, nada de discurso polido, medroso. Nada de discurso de ódio. O texto é exemplar. E muito forte – até pelas mensagens implícitas. Nem precisou falar de golpe. Alexandre de Moraes me surpreendeu, confesso. Xandão, um jovem ministro nascido em 1968, com 54 anos incompletos, virou o namoradinho do Brasil e justiceiro em memes nas redes. Em um dos memes, o juiz pergunta a Bolsonaro: “Entendeu ou quer que eu desenhe?”

O Brasil já entendeu e é contra a radicalização e conflitos armados. O Brasil quer votar em paz. Mas, diante das pesquisas favoráveis a Lula, do PT, empresários bolsonaristas são acusados de tramar golpe. O furo é do jornalista Guilherme Amado, do site Metrópoles. Juristas pediram ao Supremo que incluam esses empresários no inquérito sobre milícias digitais antidemocráticas. O site reproduziu mensagens do grupo Empresários & Política. José Koury (dono do Barra World Shopping): “Prefiro golpe do que a volta do PT. Um milhão de vezes”. André Tissot (presidente do grupo Sierra): “O golpe teria que ter acontecido nos primeiros dias de governo, 2019, teríamos ganhado outros 10 anos a mais”. O grupo chegou a discutir se seria ilegal dar bônus em dinheiro aos trabalhadores que votassem em Bolsonaro.

José Isaac Peres (dono dos shoppings Multiplan): “Quero ver se o TSE tem coragem de fraudar as eleições após um desfile militar na Av Atlântica com as tropas aplaudidas pelo público”. Morongo (Marco Aurélio Raymundo, dono da marca de surfwear Mormaii): “O 7 de setembro está sendo programado para unir o povo e o Exército e ao mesmo tempo deixar claro de que lado o Exército está”. No 7 de Setembro, bicentenário da Independência, não haverá desfile militar na Av Atlântica. Nem na Presidente Vargas. Haverá um ato próximo ao Forte de Copacabana. Com barcos e aviões. O Comando Militar do Leste cancelou as paradas depois que a prefeitura do Rio vetou o uso da orla.

Isso é o que dá isentar nosso criminoso-mor. Seus seguidores incham de prepotência. O discurso de Alexandre de Moraes, aplaudido de pé, terá efeitos. Coibir a sanha golpista? Ou alimentar? Vamos fazer nossa parte. Estas eleições são cruciais. E você sabe disso.

 

Um comentário:

Anônimo disse...

Muitos e muitos crimes! Mas, enquanto o criminoso-mór e mentiroso-mór não for punido, seus cúmplices sentem-se a vontade e protegidos/acobertados pra seguirem cometendo seus próprios crimes, crentes na impunidade que foi obtida (até agora) pelo genocida! Fora do poder, Bolsonaro vai começar a pagar por tantos crimes e mentiras! E não vai poder continuar protegendo seus cúmplices familiares, aquele bando de zeros, valores que indicam o que cada um realmente vale! O próprio Bolsonaro já percebia o que cada um valia...