Folha de S. Paulo
Com Lula 3, o padrão de relações
Executivo-Legislativo ainda não está consolidado, mas há um elemento novo. Se
em Lula 1 e 2, o Executivo predominou, e com Dilma, entrou em confronto e
malogrou, com Lula 3, a postura do presidente é de delegação seletiva, onde a
política externa passa a ser variável importante e inédita.
Sob Bolsonaro, tivemos uma espécie de hiperdelegação às lideranças congressuais, contrastando com o padrão hegemônico nos governos do PT, em que o partido —favorecido por vários fatores— prevalecia. A fragmentação era menor do que a atual, e o partido pivô das coalizões de governo, o MDB, era o protagonista do conflito. No governo Dilma, o padrão ruiu por uma combinação de fatores.
O MDB reagiu às iniciativas da presidente
"de reduzir sua dependência do MDB", patrocinando entre outras
coisas, a (re)criação de novos partidos (PSD em 2011 e PL em 2015) —estratégia
que Eduardo Cunha (MDB), então presidente da Câmara, chamou de "operação
tabajara contra o partido".
O confronto minou a governabilidade. No
início do governo, em 2015, o presidente do Senado, Renan Calheiros, chegou a
devolver a MP do ajuste fiscal, obrigando o governo a revogá-la. O desenlace é
conhecido: impeachment.
A escolha estratégica com Lula 3 é
segmentada: delegar poderes no plano da política doméstica e focar na política
externa, onde "estão as frutas fáceis de colher". Isso por quatro
razões. Em primeiro, sua prioridade estratégica no seu derradeiro mandato é
entrar para a história como estadista de primeira linha, recuperando sua
reputação conspurcada por escândalos. Segundo, por que é no plano internacional
que tem vantagens comparativas muito importantes devido ao lugar do Brasil na
política global da mudança climática.
Terceiro, o cenário interno é muito adverso
para ser bem-sucedido devido às restrições fiscais, mas sobretudo políticas.
Finalmente, a virada esquerdizante e a política externa mitigariam custos junto
à sua base da aliança com setores ultraconservadores no plano doméstico.
No entanto essa estratégia está malogrando.
No plano doméstico, o quadro ainda é muito incerto. No Congresso, o governo
ainda não tem base. Lula repete que tem gente "muito experiente no comando
do governo: ex-governadores e ex-parlamentares", subestimando sua enorme
vulnerabilidade. Muito mais preocupante é o risco de o Brasil voltar a ser um
pária no plano internacional. Vide a forte reação às suas declarações. A postura
brasileira em relação à Guerra da Ucrânia e à China está alienando seus parceiros-chave na pauta
ambiental: os países escandinavos, a Alemanha e os EUA.
O país quer pagar o preço dessa aventura?
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