O Globo
O mundo caminha para uma economia verde, e
o Brasil também tem recursos aí. Só que custa mais caro
Do ministro Fernando
Haddad:
— Temos obrigação de crescer acima da média
mundial, dado nosso potencial de recursos naturais, recursos humanos e parceria
do Brasil com o mundo.
Há até abundância de recursos naturais, mas
não valem nada se não forem explorados de maneira eficiente e com visão de
futuro.
Petróleo, por exemplo. Na Margem Equatorial
Brasileira, região litorânea que vai do Amapá ao Rio Grande do Norte, estão
depositados 14 bilhões de barris de petróleo, numa estimativa consistente. Para
ter uma ideia: as atuais reservas provadas de óleo no Brasil, coisa certa,
alcançam cerca de 15 bilhões de barris.
A Petrobras já separou US$ 3 bilhões para começar a explorar essa imensa riqueza. Mas, de cara, esbarrou no Ibama, que negou a licença para pesquisas num poço, o primeiro, ao largo da foz do Amazonas. A região tem enorme densidade socioambiental, diz o Ibama, de modo que é intolerável o risco de exploração do óleo, mesmo que não aconteça nenhum desastre — tipo vazamento de petróleo de alguma plataforma.
E aí?
A Petrobras não dá o caso por encerrado.
Refará o pedido de licenciamento e insistirá em outros poços. Em meios
políticos e econômicos nos estados que ganhariam investimentos e, no futuro, os
ricos royalties, há forte reação ao Ibama e à atuação da ministra do Meio Ambiente, Marina Silva.
O caso vai parar na mesa do presidente Lula.
Não será fácil.
O presidente assumiu fortes compromissos,
locais e internacionais, com a preservação do meio ambiente e com a Amazônia,
em especial. Nessa linha, a exploração do óleo na Margem Equatorial é inaceitável.
Para começar se trata de combustível fóssil — justamente o inimigo principal
quando se fala de aquecimento global. O mundo caminha para uma economia verde —
e o Brasil também tem recursos aí.
Só que custa mais caro, é projeto de médio
e longo prazo, com introdução de novas tecnologias. O petróleo está ali, à mão.
A era do petróleo certamente acabará, mas em quanto tempo, 30, 40 anos?
Em qualquer caso, dizem os
desenvolvimentistas, o país tem tempo para impulsionar o crescimento com a
exploração do óleo. Além disso, acrescentam, mesmo as petrolíferas globais mais
empenhadas em desenvolver energias verdes continuam retirando e vendendo o
“ouro negro”.
Eis o ponto: sobram recursos naturais dos
dois lados, o petróleo e a riqueza ambiental da Amazônia — dependendo de uma
escolha política.
Seguindo a lista do ministro Haddad, o
Brasil tem recursos humanos: é grande a população em idade de trabalhar. Mas a
educação desses trabalhadores é péssima, forte entrave ao crescimento. Essa é
uma das conclusões do importante estudo lançado nesta semana pelo Movimento
Brasil Competitivo, em parceria com o Ministério do Desenvolvimento. O estudo
mediu o que se chama de custo Brasil, o conjunto de entraves ao ambiente de
negócios. Ou, de maneira direta, a dificuldade que enfrenta quem quer produzir
e ganhar dinheiro honestamente.
Com o avanço de tecnologias digitais, a
começar pela inteligência artificial, o Brasil, mesmo tendo muita gente, corre
o risco de um apagão de mão de obra. Os trabalhadores não estão preparados para
a nova era. O assunto também cai na mesa do presidente Lula. O que fazer com o
ensino médio, ponto crucial na trajetória da educação? Até aqui, foi um
fracasso. Mas forças políticas ligadas a Lula, de estudantes a professores, não
querem saber de reformas. De novo: o recurso está aí, mas, se não for
utilizado, se perde.
Finalmente, temos as parcerias do Brasil
com a economia mundial. Há problemas. O país segue muito fechado tanto para
investimentos quanto para comércio. É protecionista — situação que tem muitos
interessados. A indústria automobilística, por exemplo. Para um país do futuro,
a gente deveria estar tratando do carro elétrico. Em vez disso, corre no
governo e em setores próximos a ideia do “carro popular” — a combustão, sem
tecnologia e barateado com incentivos fiscais.
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