Como Pelé é o craque da bola e Niemeyer o craque da arquitetura,
Ivan é um craque das palavras. Sabe usá-las com muita competência e magia. Como
dá gosto ver a arte de Pelé no futebol e a arte de Niemeyer na
arquitetura, dá gosto ver a arte literária do Ivan Alves Filho.
Li o livro de um só fôlego. Como uma comida saborosa, daquelas que a gente come e tem vontade de comer mais. Li o livro do Ivan com tanta gulodice que, chegando ao final, tive vontade de ler outra vez. Porque é muito bom o tempero das suas narrações, informações e observações, que vêm do seu conhecimento e experiências.
Com linguagem simples, saborosa e conteúdo riquíssimo, Ivan
passeia, com rara habilidade, na História política, artística, literária,
em torno do grande arquiteto e grande figura humana Oscar Niemeyer, em todo o
Século XX. E através do famoso arquiteto, Ivan aproxima-se de grandes
personalidades do mundo da arquitetura, da literatura, da pintura, da política
e do pensamento mundial.
Artistas, escritores, engenheiros, arquitetos, músicos e políticos
famosos estavam sempre com o arquiteto, no seu escritório da Avenida Atlântica,
em Copacabana, também sua residência. Ali, Ivan convivia com ele na intimidade
e, por ele, tinha contatos com toda essa gente famosa.
Conforme o Ivan, o Oscar, figura humana e grande humanista, era
maior do que o Niemeyer arquiteto. Era um homem acima do bem e do mal. Acolhia
com a mesma generosidade e afeto tanto quem concordava com ele, como quem não
concordava. Ele tinha uma ideologia política, mas estava acima das ideologias.
Vão por aí as análises do escritor sobre o grande Oscar Niemeyer
que, na França, na década de 1970, lhe deu todo apoio e solidariedade. Ivan
estava em Paris, exilado, ainda jovem, depois de ter passado pelos porões da
ditadura brasileira.
São belas as descrições e detalhes das suas experiências na França
e na Argélia, impulsionadas pelas atividades artísticas, sociais e políticas do
arquiteto. E belíssimas são as suas experiências a partir de contatos com
revolucionários argelinos, na luta de libertação do domínio francês.
É impressionante o interesse e a capacidade com que descreve suas
experiências na Argélia. Visitando o Saara, com um amigo argelino, ele diz que
o deserto lembra o nosso sertão e, generosamente, se refere ao prefácio que fez
para o meu livro “Conversas de Papel”. E informa que Ceará é uma corruptela de
saara. Sempre fazendo revelações.
E foi através de Oscar Niemeyer que Ivan teve acesso a Claude
Lévi-Strauss, o grande mestre da Antropologia do século XX e ao famoso
fotógrafo Henri Cartier-Bresson. Conseguiu entrevistar estas duas
personalidades famosas, do pensamento e da arte mundial.
Quero dizer que o livro do Ivan é um passeio pela História das
artes, das personalidades artísticas e da política mundiais do século XX. Ele
disserta tudo com tanta habilidade, tanta emoção, que coloca a gente dentro da
História. Como se tudo estivesse acontecendo hoje. Ele quer mostrar com isso
que Oscar Niemeyer está presente em todos os tempos. É um imortal.Por fim, o
escritor apresenta o arquiteto Oscar como um homem simples, “característica que
impressionava a todas as pessoas que dele se aproximavam”. Era tolerante,
respeitava os diferentes, defendia, na prática, a convivência pacífica, grande
defensor das liberdades humanas.
Diz o Ivan que as conversas com o Oscar eram enriquecedoras. E,
certa vez, disse a ele que todo cidadão brasileiro devia ter o direito de conversar,
pelo menos, dez minutos com ele. Isso devia constar da Constituição brasileira.
Um grande pensador católico já disse que a Doutrina Social da Igreja é um tesouro escondido, que os católicos ainda não descobriram. O Ivan, nesse livro, revela para todos nós esse tesouro escondido que é Oscar Niemeyer, com sua arte, seus desenhos, sua arquitetura, seus valores humanistas e libertários. O livro é de leitura indispensável.
*Advogado e escritor, autor de vários livros em que se destacam
“Bancários – Anos de Resistência (1964-1979)” e “Removendo Pedras”
Nenhum comentário:
Postar um comentário