Portal Notícias,24 horas (ES)
Navegar é preciso. Exige treinamento,
mapas, bússola, régua, compasso e astrolábio que eram os instrumentos
utilizados pelos navegadores portugueses na época dos descobrimentos e que
também inventaram a vela latina, triangular, que permite velejar contra o
vento. A navegação hoje conta com o GPS e instrumentos sofisticados e segue
sendo exemplo de atividade de precisão, que usa conhecimento científico,
cálculos e planejamento. Na navegação temos objetivos, destino e traçamos
rotas.
Os poetas, de Fernando Pessoa a Paulinho da Viola, advertem que a vida não é como a navegação, é imprecisa e incerta. “Não sou eu quem me navega quem me navega é o mar”, diz um samba famoso do compositor portelense.
A atividade de planejamento na vida
particular, nas organizações ou nos governos exige uma postura que procure
combinar a ciência dos navegadores com a sabedoria dos poetas. O ensinamento
fundamental da poesia é que o curso da nossa vida é uma resultante onde
influem, além de nossas próprias decisões, escolhas e atitudes, a ação dos
outros e o acaso. O economista chileno Carlos Matus preferia falar em “cálculo
tecnopolítico” como sendo a ferramenta básica do planejamento e do processo de
tomada de decisão nos governos.
Ainda há quem insista em fazer distinção
entre “técnica” e “política” mas, na grande maioria das situações, não é a
forma mais inteligente de lidar com o processo decisório. Existe muita
literatura sobre a importância das políticas públicas baseadas em evidencias
cientificas e comprovação empírica.
De fato, abandonar o “achismo” e o
improviso, estudar experiências de êxito e fracasso, trabalhar com estatísticas
e indicadores, fazer diagnósticos e desenhar cenários, gerar alternativas de decisão
e avaliar os prós e contras de todos os caminhos possíveis são práticas
gerenciais de excelência que reduzem muito os erros e as imprecisões. No
entanto a boa gestão pública não é só isso. Não é precisa como a navegação
muito embora deva recorrer a todos seus instrumentos. É a qualidade da política
praticada que determina e condiciona a gestão pública.
A política, a luta e o exercício do poder
político costumam ser analisados e qualificados com o auxílio de categorias
como “pequena ou grande política”; política com “P” maiúsculo ou minúsculo;
política de estadista, do baixo e do alto clero, maquiavélica, pragmática ou
programática, “toma lá dá cá” entre outras.
Há também o conceito de “capital político”
e de “capital cívico” que se relacionam com o grau de confiança existente na
sociedade e sua disposição em acreditar e cooperar. Qualificar o processo
político é procurar manter o leme das decisões de governo sempre no rumo do
interesse público em meio ao ruído, por vezes ensurdecedor, dos múltiplos interesses
particulares em disputa.
O interesse público é um alvo móvel que
depende fortemente das diferentes formas de enxergar a vida e os interesses de
cada segmento, categoria ou setor da sociedade. Trata-se de uma construção
abstrata e edificá-la é o papel mais nobre das lideranças que surgem e se
afirmam no processo político. Quanto mais se disponham a liderar estratégias
transformadoras e se afastem dos populismos, mais avanço social e prosperidade
ajudarão a produzir.
Quando o poder político é percebido como
operando a favor da transformação social e do desenvolvimento, o capital cívico
aumenta. Se, ao contrário, o poder político é capturado por interesses
privilegiados, e é visto desta forma, a confiança se perde junto com o capital
cívico.
Os economistas identificados com a escola
institucionalista explicam o desenvolvimento dos países pela qualidade de suas
instituições. Qualidade das instituições e da gestão pública.
A política é o barco da vida quando nos
aventuramos navegar.
*Luiz Paulo Vellozo Lucas – engenheiro de
produção pela UFRJ com cursos de pós *graduação em finanças (Arthur Andersen),
desenvolvimento econômico (BNDES) e economia industrial (IE-UFRJ), mestrado em
Engenharia e Desenvolvimento Sustentável pela UFES. Foi funcionário de carreira
concursado do BNDES onde ingressou em 1980, aposentando-se em agosto de 2016.
Foi prefeito de Vitória por dois mandatos consecutivos (1997-2000 e 2000-2004),
deputado federal pelo Espírito Santo e foi diretor Presidente do BANDES, Banco
de Desenvolvimento do Espirito Santo entre 2015 e 2016 e do IJSN-Instituto
Jones dos Santos Neves entre 2019 e 2020. Atualmente é Sub Secretário de
Desenvolvimento Econômico do governo do Espirito Santo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário