Valor Econômico
Um comunicado do Copom deve ser lido sempre
em comparação ao texto anterior
O comunicado do Comitê de Política
Monetária (Copom), divulgado logo após a reunião em que o Banco Central manteve
a taxa básica de juros (Selic) em 13,75% ao ano, é compatível com um corte dos
juros em agosto, garante um ex-diretor do BC que trabalhou no primeiro mandato
de Lula.
Garantir a queda da Selic é algo difícil porque pode ocorrer algum evento gigantesco até a próxima reunião do Copom, marcada para os dias 1º e 2 de agosto. Mas é fato que o comunicado deixa aberta a porta do corte para o mês de agosto.
Um comunicado do Copom deve ser lido sempre
em comparação ao texto imediatamente anterior. Neste caso, foram retiradas
todas as referências a uma possível alta da taxa básica de juros. Esta era uma
limpeza necessária caso se pretenda reduzir os juros.
É natural que o texto não dê certeza quanto
ao início da queda por vários motivos, sendo que um deles é a reunião do
Conselho Monetário Nacional (CMN) marcada para o dia 29. Sobre isso o Copom não
pode falar explicitamente, sob pena de parecer estar impondo condições ao
conselho.
Caberá ao CMN confirmar ou não as metas
para a inflação de 2024 e 2025 e definir a meta para 2026. As declarações de
Lula feitas no início do ano criaram uma enorme especulação sobre a
possibilidade de a meta mudar. Lula chegou a citar o percentual de 4,5% como
mais factível para a economia brasileira do que os 3% já estabelecidos para os
próximos dois anos. Se essa meta for confirmada, ela se repetirá em 2026.
O Copom se referiu à reunião do CMN, ao
listar no balanço de riscos para a alta da inflação “uma desancoragem maior, ou
mais duradoura, das expectativas de inflação para prazos mais longos”
Amainada a especulação, o mercado tem como
base que o número não mudaria para os próximos três anos, ficando em 3%. Se
essa não for a decisão do conselho monetário, tal como ocorreu em junho de
2007, quando o CMN se reuniu para estabelecer a meta de inflação de 2009, Lula
estará inflacionando a meta.
Definir quando vai começar ou interromper
um ciclo é sempre difícil. É uma questão de sintonia fina. Se o BC estiver
pretendendo cortar os juros e quiser preservar sua liberdade de fazer o corte
de maneira gradual e em pequenas doses, ele não vai querer que mercado
precifique uma queda grande.
Outra questão se refere a operar a política
monetária no ano-calendário ou por prazos mais longos. “Há modelos diferentes
para trabalhar com uma meta contínua e de não trabalhar com o ano-calendário,
vai de ser algo bacana até ser uma coisa ruim”, e o mercado aguarda também uma
definição do CMN sobre isso.
É importante que se leia comunicado de
forma comparativa com o comunicado anterior. Tudo que tem no comunicado é
compatível com cortar os juros em agosto.
O que tem de novo: o desaparecimento do
cenário em que os juros não cairiam no horizonte relevante; toda a conversa
sobre a possibilidade de ter que subir os juros também desapareceu e que diz
que a estratégia de manter os juros altos tem sido suficiente. Não diz que a
estratégia “foi” suficiente.
Toda a referência de linguagem sobre uma
possível alta futura sumiu.
No fim do comunicado, o Copom “relembra que
os passos futuros da política monetária dependerão da evolução da dinâmica
inflacionária, em especial dos componentes mais sensíveis à política monetária
e à atividade econômica, das expectativas de inflação, em particular as de
maior prazo, de suas projeções de inflação, do hiato do produto e do balanço de
riscos”. São, portanto, coisas extremamente genéricas, e a liberdade de ação do
comitê é enorme.
“Acho que o comunicado é muito compatível
com o corte de juros em agosto, embora o BC tenha preferido não explicitar,
pelos efeitos que poderia ter: excesso de precificação de cortes, assumir o
compromisso de antemão, e tornar isso independente da decisão do CMN e do que
ela poderá fazer com as expectativas de inflação”, comentou o ex-dirigente do
BC.
Quanto aos comentários de Lula e dos demais
colaboradores, que estavam furiosos e indignados por não lerem que os juros vão
cair no dia tal, ele afirma que compreende a ansiedade pela queda dos juros e
que eles queiram mostrar aos seus eleitores que estão ativamente lutando por
isso.
“Mas, infelizmente esses objetivos
conflitam com o objetivo de ajudar os juros a cair.”
Paciência e serenidade já estavam no
comunicado anterior. Perseverar, idem. E o que foi colocado - um conjunto de
condicionantes bastante amplo e genérico - aumenta a liberdade de cortar.
“Mais sinalização de corte teria sido uma
afoiteza”, disse.
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