Folha de S. Paulo
Tornar ex-presidente inelegível é maneira
de barrar do processo eleitoral quem atuou para destruí-lo
Jair
Bolsonaro facilitou a vida dos ministros do TSE que
começaram a julgá-lo. Por anos, o ex-presidente liderou uma conspiração à luz
do dia para derrubar a credibilidade do sistema de votação do país e deixou
para trás as provas de um plano que tinha como objetivo mantê-lo no poder mesmo
derrotado.
Na prática, Bolsonaro tentou fraudar o processo de escolha de um novo presidente. Para isso, ele abusou do cargo que ocupava: acionou o Exército para interferir na organização da eleição e usou ferramentas oficiais para difundir informações falsas. Segundo o Ministério Público, era uma conduta que causava o "estremecimento do apoio popular à própria existência de eleições".
Como presidente, Bolsonaro passou quatro
anos num esforço para fragilizar controles democráticos e desestabilizar um
sistema que ameaçava a renovação de seus poderes. Como candidato, violou as
regras do jogo eleitoral para ficar no cargo. Excluí-lo
dessa arena temporariamente é o mínimo que o TSE pode fazer.
A pena que o tribunal deve aplicar a
Bolsonaro não é apenas uma punição pelas infrações do passado. Tornar o
ex-presidente inelegível por oito anos é também uma maneira de bloquear a
participação direta no processo eleitoral de um personagem que atuou para
destruí-lo.
Seria ingenuidade acreditar que, com o
caminho livre para concorrer ao Planalto novamente em 2026, Bolsonaro se
converteria milagrosamente num devoto das urnas eletrônicas. Eleito para mais
um mandato, dificilmente deixaria de lado seus delírios golpistas e sua
campanha para driblar as regras que limitam o poder do presidente.
Ainda que a inelegibilidade pareça amarga,
oito anos certamente não tornarão Bolsonaro um fiel cumpridor da ordem
institucional. O ex-presidente opera numa frequência que favorece o confronto
com esse princípio, como sugere o discurso de perseguição que ele ensaia diante
da provável condenação. Se voltar às urnas em 2030, provavelmente voltará com o
mesmo figurino.
Um comentário:
Com certeza,se bem que 8 anos ainda pega 2030...
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