O Estado de S. Paulo
Mesmo insatisfeitos com as instituições, a democracia se consolida como preferência dominante
Amais nova pesquisa Datafolha sobre a
percepção da opinião pública brasileira acerca da confiança nas instituições
políticas, que representam o coração da democracia, mostra que apenas 24% da
população confia muito na presidência, 20% no STF, 19% no Ministério Público,
9% no Congresso Nacional e apenas 7% nos partidos políticos. Até mesmo a
confiança nas Forças Armadas, que costumava ser mais alta (45% em abril de
2019), caiu para 34% depois das trapalhadas da sua participação no governo
Bolsonaro.
Além disso, 61% dos brasileiros afirmam estar desanimados e tristes, 55% têm mais medo do futuro do que esperança e 71% se sentem inseguros com o país de hoje em dia.
Por outro lado, a maioria da população
(75%) identifica a democracia como a melhor forma de governo, atingindo a maior
taxa de apoio da série histórica. Ou seja, três em cada quatro brasileiros
avaliam que a democracia é sempre melhor. Em torno de 12% é indiferente entre
uma democracia ou uma ditadura e somente 7% acredita que uma ditadura, em certas
circunstâncias, é melhor do que um regime democrático.
Como explicar o aparente paradoxo das
instituições democráticas não partilharem da confiança da maioria da população,
mas, ao mesmo tempo, a democracia, que é praticada por meio dessas
instituições, ser identificada como a melhor forma de governo?
A base das insatisfações da população e da
sua baixa confiança com as instituições políticas brasileiras pode ser buscada
na efetividade das ações e no fortalecimento das próprias instituições.
Ao expor os meandros e bastidores do
suposto “jogo sujo” da política, a atuação das instituições políticas tem o
potencial de gerar um mal-estar generalizado. A imagem que fica é a de que as
coisas estão fora do lugar. Contraditoriamente, o desempenho das instituições gera
a sua própria rejeição, notadamente daqueles que, momentaneamente, estão do
lado perdedor, que apresentam mais dificuldades de se distanciar para ter uma
noção mais ampla da trajetória que o país se move.
O conjunto de informações – decorrente da
ação das instituições políticas – termina por diminuir o suporte e a confiança
que a população tem do governo e, em alguns casos, das suas próprias
instituições democráticas. A atuação das instituições democráticas, portanto,
pode ter o efeito colateral de diminuir a esperança das pessoas de que elas
sejam capazes de resolver os seus problemas.
Mas, mesmo diante dessas frustrações, não
enxergam alternativas à democracia, ainda que não se percebam satisfeitos com a
atuação das instituições democráticas.
*CIENTISTA POLÍTICO E PROFESSOR TITULAR DA ESCOLA BRASILEIRA DE ADMINISTRAÇÃO PÚBLICA E DE EMPRESAS (FGV EBAPE)
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