O Estado de S. Paulo
Numa campanha marcada por ‘fake news’, joga-se não apenas o destino de um país
As eleições espanholas serão amanhã, e o
país ferve com a temperatura do pleito, tórrida como os termômetros de Madri.
Numa campanha marcada por teorias conspiratórias e “fake news”, joga-se não
apenas o destino de um país, mas também um lance fundamental para o xadrez
político do continente.
“É preciso olhar para a situação da União Europeia como um todo, ainda mais quando pensamos nas eleições para o Parlamento Europeu no ano que vem”, diz o jornalista Miguel González, do diário El País. Ele é autor de um livro de referência sobre o Vox, partido da direita radical espanhola, e é entrevistado no minipodcast da semana.
O Parlamento Europeu se divide hoje em três
forças principais, que espelham a política interna dos países. A direita,
representada em Bruxelas por uma federação de “partidos populares” (EPP). A
esquerda, que, no Parlamento Europeu, se reúne num grupo de siglas “socialistas
e democráticas” (S&D). E o que os cientistas políticos chamam de
ultradireita, cuja principal federação é a dos “conservadores e reformistas”
(ECR).
Quando se olha para os cinco países mais
populosos da União Europeia, nota-se como a ultradireita vem desalojando a
direita tradicional – embora esta última ainda seja majoritária no Parlamento
Europeu. Alemanha e Espanha têm governos socialistas, o francês Emmanuel Macron
lidera uma federação de partidos “de centro” e Itália e Polônia estão nas mãos
dos radicais da ECR.
Nas eleições espanholas, as pesquisas
apontam uma disputa renhida entre o Partido Popular e os socialistas, com
vantagem para o primeiro. A principal expectativa, no entanto, é o que irá acontecer
com o Vox, o representante da ultradireita.
As pesquisas apontam três cenários. Uma
vitória do PP com larga margem, próxima da maioria absoluta. Uma vitória dos
socialistas com margem apertada – eles formariam o governo com pequenas siglas
de uma esquerda fragmentada. Ou, o cenário mais inquietante, uma vitória
apertada do PP – que, nesta hipótese, teria de compor com o Vox para poder
governar.
Neste caso, três dos cinco países mais
populosos da Europa teriam a ultradireita no governo. “Isso pode ter reflexos
nas eleições continentais e mudar todo o projeto europeu, incluindo o combate à
mudança climática, algo que teria repercussão mundial”, diz González.
Num mundo interligado do ponto de vista
político – a União Europeia é o experimento mais avançado de integração –, as
eleições em um país alteram o jogo em vários outros. Por isso é tão importante
ficar de olho, neste domingo, nas notícias que vêm da tórrida Madri.
*Escritor, pesquisador do Observatório da Qualidade
da Democracia na Universidade de Lisboa e professor da Faap
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