O Globo
Com mandatos fixos de quatro anos,
diretores do Banco Central terão mais autonomia para tomar decisões e expressar
opinião
A autonomia do Banco Central, ao mesmo
tempo em que fortalece a instituição, enfraquece a presidência do órgão. E isso
é uma boa notícia. Agora, todos os diretores do Banco também têm mandatos fixos
de quatro anos e não podem ser retirados do cargo. Por isso, cada um deles terá
— além da autonomia de voto nas reuniões do Copom — o direito de se comunicar
como bem entender, sem a necessidade de aprovação de qualquer assessoria
vinculada ao órgão, muito menos do próprio presidente.
A confusão provocada esta semana em torno de um suposto documento interno que teria tentado instituir uma “lei da mordaça” sobre os diretores — negado pelo Banco Central — teve um efeito líquido positivo e educativo para o país. A nota encaminhada pelo próprio Banco, intitulada “Esclarecimentos sobre a Política de Comunicação do Banco Central do Brasil” na noite de quarta-feira, oficializou o que já era óbvio: “Todo dirigente do BC tem pleno direito de expressar livremente suas opiniões nos canais que considerar adequados, sem necessidade de quaisquer autorização ou aprovação prévias.”
É verdade que a comunicação do Banco
Central tem influência direta sobre as expectativas, e isso aumenta a
responsabilidade sobre cada palavra dita pelos seus diretores. Isso quer dizer
que eles terão que medir com precisão cada comunicado e entrevista, porque
haverá efeitos sobre o mercado financeiro, o que significa influenciar o dólar,
as projeções de inflação, os juros, e, em última instância, o próprio
crescimento do PIB.
Mas o país e o próprio mercado terão que
aprender a conviver com as opiniões divergentes entre os integrantes do Copom.
Isso já é normal em economias desenvolvidas, como a dos Estados Unidos, onde os
presidentes dos bancos centrais regionais — e que votam no colegiado que decide
os juros — concedem entrevistas que mexem com os ativos. É comum que cada um
deles seja monitorado pelo mercado individualmente. Uns são considerados mais
hawkish, ou falcões, mais conservadores com a política de juros, enquanto
outros são vistos como dovish, ou pombas, menos ortodoxos.
No Brasil, o Comitê de Política Monetária
(Copom), que decide os rumos das taxas de juros, é composto pelo presidente do
Banco Central e outros oito diretores. Na prática, eles sempre tiveram
autonomia de voto, mas, como eram indicados de forma indireta pelo presidente
do órgão (o poder da caneta sempre foi do presidente da República), a tendência
era que caminhassem na mesma direção, pelo menos publicamente. Agora, o debate
de ideias ficará mais intenso e haverá maiores discordâncias.
Tudo isso fortalecerá a instituição e
ajudará para que o país conviva com taxas de juros e inflação mais baixas, o
objetivo final do projeto de autonomia do Banco.
Boa fase
Desde o início do ano, quase R$ 20 bilhões de recursos estrangeiros entraram na bolsa brasileira, segundo dados da B3 compilados pelo Clube do Pai Rico (veja no gráfico). Somente em julho, foram R$ 2,84 bi. Ontem, o dólar recuou para R$ 4,78, e o Ibovespa teve forte alta, de 1,81%, voltando para os 120 mil pontos. A expectativa de queda dos juros pelo Banco Central, já na próxima reunião de agosto, estimula a entrada na bolsa. O mercado já dá como certa a queda dos juros, mas ainda se divide sobre a intensidade, se 0,25 ou 0,5 ponto.
Filme repetido
A Associação Brasileira dos Importadores de Combustíveis (Abicom) calcula que o preço do óleo diesel no Brasil está 13% abaixo do mercado internacional. Já a gasolina, 17% mais barata. No mercado financeiro, há quem diga que o programa de paridade de importação praticado pela Petrobras acabou. Na média, isso significa que o diesel vendido pela empresa está R$ 0,46 mais barato, enquanto a gasolina, R$ 0,50. No passado, esse tipo de subsídio minou recursos do caixa da empresa, que passou por uma crise de confiança. Além disso, segurar preços abaixo da paridade desestimula investimentos e aumenta o risco de faltar produto no país.
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