Nas últimas três semanas, levantamos uma
série de hipóteses não excludentes para fundamentar a discussão sobre as causas
da perda do dinamismo exuberante da economia nos últimos 42 anos.
Hoje concluímos a série, acrescentando mais
dois vetores explicativos: o “Custo Brasil” e a instabilidade política,
institucional, legal, regulatória e contratual.
O Estado brasileiro orquestrou o processo de industrialização, diferentemente das experiências de Inglaterra e EUA, onde a sociedade e o mercado eram os protagonistas, secundados pela ação governamental. Aqui, todas as ferramentas disponíveis (crédito, câmbio, tarifas, impostos, investimentos públicos, preços estatais, subsídios, diplomacia, etc.) foram intensamente acionadas para gerar externalidades positivas ao processo de acumulação capitalista.
O esgotamento relativo da capacidade de
intervenção do Estado, a partir de 1979, mergulhado em crises sucessivas
marcadas por estrangulamentos externos, moratórias, inflação intensa, planos de
estabilização fracassados, estrangulamento fiscal, levou à formação de um
ambiente adverso ao crescimento sustentado e acelerado.
O Estado, grande maestro da modernização
pelo alto, passou a ser problema, não solução. Isto se materializa no chamado
“Custo Brasil”.
A crise do Estado brasileiro resultou em
uma das mais altas cargas tributárias entre países emergentes, infraestrutura
logística precária, custos operacionais altos derivados da ineficiência governamental,
intervencionismo exacerbado. Ao invés de recepcionarmos a globalização e o novo
mundo digital com uma postura flexível, criativa e inovadora, geramos um
ambiente de negócios hostil aos investimentos privados não cartoriais.
Como dizem os líderes do nosso exitoso
agronegócio: “da porteira para dentro, estamos bem, para fora, não tanto”.
Estradas, ferrovias, portos, burocracia, intervenções excessivas, não ajudam
impulsionar o empreendedorismo.
Outro aspecto é a instabilidade institucional.
Há palavrinhas mágicas no desenvolvimento capitalista, tais como:
previsibilidade, respeito aos contratos, estabilidade das regras do jogo,
flexibilidade, eficiência.
Não
custa repetir a antológica frase atribuída ao ex-ministro Pedro Malan: “No
Brasil, até o passado é incerto”. O capitalismo implica em risco, mas não em
aventuras imprevisíveis. Mudamos excessivamente as regras do jogo. Legislamos, normatizamos,
regulamos abundantemente. Vez ou outra, rompemos contratos. Ora, o capitalismo
é um sistema baseado em contratos entre as partes (empresários e trabalhadores,
produtores e consumidores, cidadãos e governos, etc.). O investidor e o empreendedor querem certa
tranquilidade a médio e longo prazo. Conseguir enxergar o cenário aonde os
retornos esperados virão. Fora as crises políticas, dois impeachments em apenas
38 anos de redemocratização.
Espero, com esses quatro artigos, ter
estimulado a reflexão sobre o porquê de o futuro tão sonhado nos anos dourados
da modernização brasileira ter escorrido entre os dedos, sem, claro, a
pretensão de esgotar o tema.
*Economista
Nenhum comentário:
Postar um comentário