Folha de S. Paulo
Não é domesticando jovens que os
prepararemos para desafios do século 21
Quando trabalhava como diretora global de
educação no Banco Mundial, fui informada de um pedido da Coreia do Sul.
Queriam repensar sua educação para promover mais criatividade.
Era nos idos de 2014 e, embora já se
falasse de inteligência
artificial, estávamos longe de ferramentas como o ChatGPT. Mas,
no ano seguinte, Martin
Ford publicou um livro alertando o mundo sobre o que viveríamos nos
próximos anos com a revolução digital e seu impacto no mundo do trabalho e na
educação. O nome era sugestivo: "The Rise of the Robots" ("A
Ascensão dos Robôs", em tradução livre). Referia-se ao advento da
inteligência artificial.
Segundo Ford, os robôs não seriam capazes de criatividade ou de resolução colaborativa de problemas complexos, competência vital para o século 21. Por isso achei tão interessante a preocupação dos coreanos. Afinal, em tempos em que inúmeros postos de trabalho estavam sendo extintos, dada a acelerada automação, fortalecer nos alunos aquilo que nos torna especificamente humanos seria primordial.
Nesse sentido, venho pensando na
preocupação de alguns pais e professores no Brasil com a disciplina.
Sim, não vamos nos iludir: disciplina é importante para a aprendizagem. Por
isso mesmo, pesquisas sobre habilidades socioemocionais vêm destacando a
relevância de se desenvolver autorregulação nos alunos. Mas atenção: ensinar o
estudante a controlar impulsos está associado a formar para a autonomia, não
para a mera obediência.
Essa busca de assegurar um ambiente escolar
menos desorganizado levou alguns pais a se inspirar nas escolas militares, onde
aparentemente o silêncio e uma ética de esforço vêm favorecendo um ensino de
qualidade. Isso ocorre nas 14 escolas militares no Brasil, destinadas a filhos
de militares, sob gestão do Ministério da Defesa. Nelas, a qualidade é
assegurada por remunerações aos professores superiores às de escolas
públicas, jornadas
em tempo integral e equipamentos adequados ao processo de ensino. Mas
há um elemento adicional: para além dos alunos oriundos de famílias militares,
os melhores alunos de escolas públicas podem ter acesso a essas instituições
por meio de uma prova bem rigorosa. Ou seja, a qualidade é da instituição e do
corpo discente, antes mesmo de assistirem às aulas.
Outra coisa são as escolas
cívico-militares, oferecidas por muitos municípios e alguns estados, até
recentemente com incentivos financeiros do governo federal. Trata-se de escolas
públicas regulares, em tempo parcial, que se beneficiam do apoio
de policiais militares e bombeiros aposentados para assegurar a
disciplina. Boa parte delas adota também um corte de cabelo e uniformes que
lembram os policiais.
No curto prazo, tendem a contribuir para um
aumento no Ideb (Índice de Desenvolvimento da Educação Básica), que mede a
qualidade do ensino. Mas será que isso que assegura um progresso sustentável na
preparação dos estudantes para a vida? Certamente que não. Afinal, não é
domesticando os jovens que os prepararemos para o que o século lhes reserva,
tanto no domínio do trabalho quanto no de uma cidadania informada.
Nunca foi tão urgente ensinar as novas
gerações a pensar, formá-las para o pensamento matemático, científico,
histórico e crítico. E já
temos um modelo de escola pública que vem fazendo isso em escala, com
a rede de escolas de tempo integral de Pernambuco —não por acaso, o melhor
ensino médio do país.
Um comentário:
SABE O SIGNIFICADO DE 'PRODUTO COM PRAZO DE VALIDADE VENCIDO'?
POI É... CLAUDIA COSTIN
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