Valor Econômico
OIT alerta para riscos globalmente com
milhões de jovens sem emprego, estudo ou formação profissional
Um entre cinco jovens no Brasil com idade
entre 15 e 24 anos não tem emprego, não estuda e nem segue uma formação
profissional, refletindo uma situação economica e social difícil que tende a
suscitar ansiedade crescente entre eles.
Relatório publicado hoje pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) mostra que a proporção de jovens ‘nem-nem’ no Brasil, ou seja, que não estuda nem trabalha (NEET na sigla em inglês), era de 20,6% em 2023, comparado a 16,1% na Argentina, 12,9% na China, 12,2% na Rússia, 25,9% na India e 31,7% na Africa do Sul.
Jovens que não tem emprego, educação ou
treinamento profissional correm o risco de se tornarem socialmente excluidos,
com renda abaixo da linha da pobreza e sem as habilidades necessárias para
melhorar sua situação economica.
‘Ninguém pode esperar um futuro estável
quando milhões de jovens no mundo não tem emprego decente e se sentem inseguros
e incapazes de construir uma vida melhor para eles e suas famílias’, afirmou o
diretor-geral da OIT, Gilbert F. Houngbo. ‘As sociedades pacíficas se apoiam em
tres ingredientes essenciais: a estabilidade, a inclusão e a justiça social. E
o trabalho decente está no centro desses três elementos’.
A taxa dos NEET no Brasil já foi pior, de 26%
em 2020, no rastro da crise de covid-19. Globalmente, a situação melhorou nos
últimos quatro anos e a tendência à alta do emprego poderá continuar ainda por
dois anos. As maiores reduções projetadas na taxa de desemprego juvenil entre
2023 e 2025 deverão ocorrer na Ásia e na Europa.
Em 2023, nada menos de 256 milhões de jovens
na faixa etária (171 milhões de mulheres e 85 milhões de homens) não estudavam
ou trabalhavam no mundo, representando 20,4% - ou seja, a taxa no Brasil segue
a média global. E entre os empregados, em nível mundial, mais da metade ocupa
empregos informais, sem proteção social.
Em 2023, os países árabes tinham a maior taxa
de jovens NEET entre as sub-regiões, com um em cada três jovens sendo NEET
(33,2%). O norte da África ficou logo atrás, com uma taxa de jovens NEET de
31,2%. Um pouco mais de um em cada quatro jovens é NEET no sul da Ásia,
enquanto na América Latina e no Caribe e na África Subsaariana a proporção foi
de aproximadamente um em cada cinco. Somente no Leste Asiático, na Europa
Oriental, na América do Norte e na Europa do Norte, do Sul e Ocidental - ou
seja, principalmente nos países de alta renda - as taxas de jovens NEET foram
inferiores a 15%.
No entanto, a OIT alerta para o número
preocupante de jovens NEET, e também para o fato de que a retomada do emprego
após a covid-19 não foi universal.
A desigualdade de oportunidades é evidente:
nos países desenvolvidos, 4 entre 5 jovens trabalham ou tem emprego regular, e
63% estão na escola ou em formação profissional. Já nos países de baixa renda,
apenas 1 entre 5 jovens na faixa etária tem emprego e somente 40% deles estão
na escola ou em formação.
Pesquisa publicada no relatório sobre
‘Tendencias mundiais do emprego de jovens 2024’ mostra que a fatia de jovens
preocupados com perda de emprego chega a 75,9% na América Latina, comparado a
64,3% na média mundial.
A fatia de jovens que consideram seu padrão
de vida melhor que de seus parentes é de apenas 45,2% na América Latina,
comparado a 53,4% na média global ou 70,4% na Asia do Sul.
Nada menos de 79% de jovens ouvidos na
América Latina consideram ‘insuficientes’ as oportunidades economicas em seus
países, comparado a jovens asiáticos bem mais otimistas sobre suas perspectivas
futuras.
Conforme o relatório, mais recentemente as
mulheres jovens obtiveram mais ganhos que os homens. Todos os países, exceto a
Indonésia, o México e a Turquia, apresentaram uma redução na diferença salarial
entre os jovens trabalhadores no período considerado (e ainda assim, a
diferença cresceu muito pouco na Indonésia e no México. Entre os países
pesquisados, as disparidades salariais entre homens e mulheres foram mais altas
- embora tenham diminuído - na Austrália, no Egito e nos Estados Unidos.
Os aumentos de remuneração mais
significativos ocorreram nos países de renda média-baixa do Sudeste Asiático
(Indonésia e Vietnã) e também na Polônia. Os salários reais - ou seja, os
salários ajustados pelos preços ao consumidor - dos jovens adultos foram mais
de 40% mais altos em 2022 do que em 2013 no Vietnã e mais de 30% mais altos na
Indonésia e na Polônia. Nos últimos anos, o crescimento dos salários reais foi
20% acima do nível de 2013 no Paquistão, na Turquia e nos Estados Unidos.
Em contrapartida, os jovens adultos
assalariados da Austrália, Brasil, Colômbia, Egito, México e Espanha não
tiveram nenhum ganho em seus salários reais mensais ao longo da década. Esses
países passaram por um período de deflação salarial, com os impactos negativos
mais fortes sofridos pelos jovens adultos na Austrália e na Espanha. No
entanto, todos os países registraram ganho nos salários reais para jovens
adultos em 2022.
Numa época caracterizada por crises e
incertezas, o peso sobre os jovens é especialmente forte. O crescimento dos
serviços ‘modernos’ e empregos industriais para os jovens tem sido limitados,
embora essa modernização possa ser aportada aos setores tradicionais pela
digitalização e pela inteligencia artificial.
Outra constatação é de que não há suficiente
emprego altamente qualificado para ser oferecido aos jovens com estudos,
sobretudo nos países emergentes.
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