terça-feira, 24 de setembro de 2024

Alvaro Costa e Silva - A bola de cristal do senador

Folha de S. Paulo

Senador diz que haverá loucura em 2026; mas loucura de quem ou contra quem?

Aprendiz de Mãe Dinah, Ciro Nogueira prevê que o impeachment de ministros do STF será uma das principais pautas na eleição do Senado em 2026. "Vai ser uma loucura, você não tem ideia do que vai acontecer", ameaçou em entrevista à Folha. O líder do centrão acredita que Jair Bolsonaro vai recuperar os direitos políticos —ou por meio do próprio Judiciário que o tornou inelegível, ou por anistia do Congresso— e poderá ser candidato ao Planalto daqui a dois anos.

Não há novidade no discurso de Ciro. É a ladainha que se ouviu no ato de extrema direita realizado na avenida Paulista no 7 de Setembro, que ficou aquém das expectativas, com os manifestantes ocupando alguns quarteirões. A surpresa é o uso da palavra "loucura" na boca do adivinho. O senador quis dizer que os ministros do Supremo, de uma hora para outra, vão ficar birutas? Ou será cometido algum desatino contra eles?

Ciro foi o articulador da campanha à reeleição, recorrendo ao que chamou de "relógio da democracia" para fazer nas redes sociais uma contagem regressiva até a vitória de Bolsonaro. Mesmo com Lula à frente nas pesquisas de intenção de voto desde o primeiro turno, o ex-ministro da Casa Civil costumava promover um infantil tic-tac para referendar a tese da virada. Deu no que deu.

A bola de cristal do senador está embaçada. A julgar pelas eleições municipais, o crime continuará no centro do debate nacional. É nesse contexto que vive Bolsonaro, alvo de inúmeras investigações: inquérito das fake news, interferência na Polícia Federal, vazamento de dados de investigação sigilosa da PF, relacionar a vacina contra Covid à Aids, adulteração de cartões de vacina, joias doadas pela Arábia Saudita e a tentativa de golpe de Estado e atentado ao Estado democrático de Direito.

Não espanta que, após quatro anos de Bolsonaro, a sociedade tema o avanço de organizações criminosas de todo tipo. A pauta da segurança domina o pleito atual. O candidato bolsonarista no Rio é um fiasco, e em São Paulo o mais combativo aliado de Nunes é Tarcísio de Freitas. A turma do capitão se identifica com o coach que desidrata sob o peso da rejeição.

 

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