O Estado de S. Paulo
Para os que apreciam a rotulação, melhor seria distinguir os sistemas democráticos dos autocráticos ou monocráticos
Sou contra as rotulações. Esquerda, direita, centro, extrema esquerda ou extrema direita pouco importam ao cidadão comum. O que ele quer do governante é resultado. Se este for positivo, se tiver emprego ou conseguir sobreviver economicamente, não importa o rótulo que o governante queira utilizar. Aliás, os rótulos têm apenas um efeito eleitoreiro. Alardeia-se que a esquerda é a favor dos pobres e a direita, dos ricos. Mas exemplos de governos eleitos são plenos de esquerdistas protetores do empresariado, ricos, e direitistas que se dedicam fortemente a bons resultados sociais. Rótulos, portanto, nada significam para os habitantes de um país.
Costumo exemplificar: pergunte a quem passa fome se ele é de esquerda, direita ou centro. Dirá: quero um pão. A um desempregado: quero um emprego. A um empresário: quero financiamento. Ou pagar menos tributos. Tudo a indicar um comando pragmático, objetivo, palpável, de acordo com as necessidades de cada qual.
Importante, sim, é preservar o sistema
democrático porque é nele que o povo manda ao escolher seus representantes.
Para os que apreciam a rotulação, melhor seria distinguir os sistemas
democráticos dos autocráticos ou monocráticos, já que estes últimos retiram do
povo a capacidade de escolha, gerando fórmulas absolutistas.
Vejam que não é incomum, naquela rotulação
tradicional, jogar empregados contra empregadores e estes contra os empregados.
São, na verdade, as duas grandes forças produtivas nacionais e aos governos
cabe compatibilizá-las, e não desarmonizá-las. Tomemos argumento trivial: os
governos querem combater o desemprego. Para tanto, é preciso ter emprego. Para
ter emprego, é preciso ter empresa. É claro que se impõe, nessa equação, que
uns e outros estejam satisfeitos com suas atividades. Daí o lucro, daí salários
adequados.
Outro preconceito: meio ambiente e terras indígenas. São valores nacionais que merecem preservação. Entretanto, esses temas passaram a ser ideológicos, prejudicando, em face de embate ideológico, a sua adequada solução. E tudo isso gera mal-estar e disputa entre brasileiros, quando todos deveriam unir-se para solucioná-los. Ideologia deve prestar-se a buscar soluções, não dividir pessoas. Concreção, racionalidade, discussão de ideias, e não embate destrutivo de conceitos.
Outra coisa que se nota: cada novo governo
(na União, nos Estados, nos municípios) quer destruir o que os anteriores
fizeram. Mudam-se programas e até seus nomes, quando se sabe que cada
governante, no seu momento histórico, fez coisas úteis. Se efetivou erros, eles
hão de ser apontados e corrigidos. Aí, sim, cabe a observação crítica cujo
objetivo será nobre: consertar o que deu errado.
Outro conceito equivocado: nas democracias é
fundamental a existência da oposição. No seu conteúdo jurídico-constitucional,
a oposição existe para ajudar a governar quando critica, contesta, contradita,
fiscaliza. Impede ela, com tal atuação, o poder absoluto, unitário. Mas não é
essa a sua atividade, ou seja, se eu perdi a eleição, o meu dever é destruir
aqueles que a venceram. O conceito, portanto, é político, e não jurídico. Com
isso se prejudica a governabilidade e, em consequência, o povo. O exemplo clássico
institucional correto é o que se dá no Reino Unido. Lá, a maioria forma o
governo, o gabinete de situação, e a oposição estabelece o que se conhece como
gabinete das sombras, cujo objetivo é fiscalizar o governo.
Com essas considerações e com vistas a
aperfeiçoar o sistema, volto aos rótulos. Por mais que se os despreze, eles
subsistem. E, por subsistirem, permito-me dizer que em alguns momentos no
Brasil venceu o que se chama de esquerda; em outros, a direita. Mas as últimas
eleições municipais indicaram que o povo quer o centro, ou seja, moderação,
tranquilidade, harmonia. Nada da radicalização que tem imperado nos últimos
tempos. Quando se pensa no centro, parte-se da concepção latina segundo a qual
a virtude está no meio (in medio virtus).
Se o centro é vencedor, é preciso
organizá-lo. Organizá-lo significa somá-lo. O que se constatou nestas eleições
municipais é que muitos partidos vencedores são de centro.
Levaram a maior parte, expressiva mesmo, dos
municípios brasileiros.
Em 2026 teremos eleições nacionais e
estaduais. Faria bem ao País se esses partidos começassem a aliançar-se desde
já por meio de um programa comum que venha a ser debatido durante a campanha
para ser aplicado no governo, oferecendo, assim, ao eleitorado a oportunidade
de saber a opção que está fazendo. Uma espécie de ponte para os futuros quatro
anos, de 2026 a 2030. Isso dará consistência e credibilidade a esses partidos.
Candidatura ver-se-á no momento próprio, mais adiante.
De igual maneira, ainda preso à rotulação: a
esquerda poderá agrupar-se e, de igual maneira, formatar um programa comum. E
de igual forma poderá fazê-lo a chamada direita.
Sendo assim, a próxima eleição não será
apenas de nome contra nome, mas de programa contra programa. Será, na certa,
uma atuação bastante respeitosa com o eleitorado.
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