sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Quando 0 a 0 é um bom placar - Vera Magalhães

O Globo

Lula lidera briga para 2026, e sua avaliação e a do governo terminam o ano pior que em 2023, mas estáveis em relação aos últimos meses

A última pesquisa Quaest de 2024 traz notícias para o governo Lula que podem parecer desanimadoras, mas que, diante de um ano bastante tumultuado, fazem lembrar aqueles jogo de futebol em que o placar de 0 a 0 é comemorado por um time que não vê a cor da bola nos 90 minutos de jogo.

Lula venceria qualquer dos nomes da direita num eventual segundo turno em 2026, inclusive Jair Bolsonaro, que está e muito provavelmente estará inelegível até lá. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, cujo nome também foi testado, também bateria Bolsonaro, Tarcísio de Freitas e Ronaldo Caiado, ainda que por menor margem.

A avaliação de Lula e do governo termina o ano pior que em 2023, mas em situação de estabilidade em relação aos últimos meses, o que dá ao presidente a chance de reorganizar sua gestão para a segunda metade do mandato sem a corda no pescoço de ter a oposição como favorita para o pleito de daqui a dois anos.

É consenso em ciência política e na análise de ciclos eleitorais a máxima segundo a qual bons resultados na economia sempre colocam mandatários como favoritos, ainda mais quando são candidatos à reeleição. Mas esse axioma vem sendo posto à prova. Basta ver que os Estados Unidos tinham bons resultados de emprego e crescimento sob Joe Biden, mas Donald Trump venceu — a despeito de ser processado pela invasão do Capitólio e das outras acusações a que responde na Justiça, além da plataforma de campanha bastante divisiva.

O resultado das eleições nos Estados Unidos, além da vitória maciça da centro-direita nos municípios brasileiros neste ano, embora não tenham relação direta com a sucessão presidencial de 2026, tinham feito a oposição bolsonarista esfregar as mãos imaginando que a vitória estava a caminho. O indiciamento de Bolsonaro pelos atos golpistas já havia jogado água nesse chope, e a pesquisa Quaest vem para confirmar que o sucesso local da direita nas capitais de Goiás e São Paulo não é passaporte para o sucesso no plano nacional, como eleições passadas já se cansaram de demonstrar.

Mas, se os dados sugerem certo alívio para Lula, o quadro político atual não permite nem cravar que o presidente vai mesmo para a disputa do quarto mandato. Mesmo antes da internação dele, já era mais comum ouvir no PT e nos bastidores do próprio governo a avaliação de que Lula ainda não tinha certeza de que seria candidato.

A divulgação dos dados da Quaest concomitantemente à internação foi uma infeliz coincidência, uma vez que o campo da pesquisa foi colhido antes, mas houve quem, no primeiro escalão, considerasse de “péssimo gosto” a cogitação de que Haddad poderia substituir o mandatário na cédula neste momento. Não é a primeira vez que cenários tendo o ministro da Fazenda como candidato são formulados. E o fato de Haddad ter desempenho positivo diante de nomes da direita justamente ao fim de um ano em que foi testado interna e externamente talvez tenha sido o que mais incomodou os ministros.

Fica da sondagem o fato de, hoje, Haddad talvez ser o único nome visto pelos agentes econômicos e políticos e pelo eleitorado como capaz de, uma vez mais, tomar o lugar de Lula como candidato. E ninguém, nem quem reclama dela, contesta que o ministro conquistou essa posição em dois momentos: ao aceitar a incumbência no momento mais crítico para Lula, quando estava preso em 2018, e pela condução da política econômica mesmo diante de fogo amigo e inimigo e, ainda assim, colher bons resultados.

O banho de água fria foi do lado de lá: o fato de Bolsonaro aparecer atrás de Lula tira ainda mais força do ex-presidente como definidor dos rumos da direita, algo que deverá se aprofundar caso ele seja condenado ou preso no ano que vem, como há grandes chances de que ocorra.

 

3 comentários:

Anônimo disse...

Parabéns pelo esforço e criatividade!! Força Vera!!!!
o pior ainda está por vir...

ADEMAR AMANCIO disse...

Eu sempre disse que as pessoas votam pra prefeito sem nenhuma intenção ideológica,eles votam porque vão com a fuça do candidato.

Anônimo disse...

Kkkkkkk
Força Vera!
O pior está por vir