sexta-feira, 13 de dezembro de 2024

Os bundas-moles e o clubinho conservador - Bruno Boghossian

Folha de S. Paulo

Discussão fecha ano em que comissão mais importante da Câmara foi um playground do atraso

No início do ano, a bancada bolsonarista recebeu as chaves do colegiado mais importante da Câmara. O grupo levou para a presidência da Comissão de Constituição e Justiça suas especialidades: desengavetou pautas ultraconservadoras, fez muito barulho político com poucos efeitos concretos, produziu conteúdo raivoso para as redes e atropelou a própria Constituição.

A extrema direita assumiu o controle da CCJ graças a um rodízio que favorece os maiores partidos da Casa. A escolha de Caroline de Toni (PL) para o posto se deu com o beneplácito do centrão de Arthur Lira (PP) e de uma ala do PL considerada menos radical. Todos sabiam que os bolsonaristas usariam a comissão como um playground do atraso.

A diversão da turma foi previsivelmente sinistra. A comissão aprovou a proibição do aborto legal em caso de estupro, um projeto inconstitucional que autoriza estados a legislarem sobre armas, uma proposta para voltar ao tempo das fraudes da contagem manual de votos e um punhado de retrocessos ambientais.

A maior parte da desgraça foi travada antes de chegar à votação no plenário da Câmara, mas serviu para consumo interno do bolsonarismo, sob a forma de vitórias morais e recheio para espantalhos ideológicos. Quando o assunto era mais sério, os adultos do centrão assumiam o controle das propostas ou faziam uma intervenção direta, como no caso da anistia para os golpistas.

A maior contribuição dessa bancada foi registrada na penúltima seção de 2024, na quarta-feira (11). Durante a votação do projeto que barra o uso de celulares em salas de aula, os bolsonaristas se dividiram. Os mais radicais denunciaram a medida como uma armadilha da esquerda para proibir alunos de gravarem vídeos da doutrinação nas escolas.

Uma deputada chegou a sugerir que os colegas de direita que votavam a favor do texto eram "bundas-moles". Sobrou até para Nikolas Ferreira (PL), insuspeito de ser um moderado. Outro parlamentar bolsonarista retrucou, reclamando da acusação e ironizando a necessidade de "pedir autorização para entrar no clubinho" conservador. O episódio poderia servir como teste psicotécnico para futuras comissões.

 

3 comentários:

Mais um amador disse...

Quando um esperto e um otário se encontram sempre sai negócio. Enquanto o orçamento é comido pelas beiradas pelas ratazanas, maluco goza nas calças no tribunal das redes sociais.

Depois reclamam das interferências do STF.

O Brasil não é para amadores.

😏😏😏

ADEMAR AMANCIO disse...

A direita-delirante e suas pantomimas...

Anônimo disse...

Texto interessante, mas escorregou na penúltima seSSão com cedilha... Aí não dá, Bruno! Ainda existe revisor na Folha ou esta função já foi extinta?