domingo, 26 de janeiro de 2025

O inferno astral de Haddad - Catia Seabra

Folha de S. Paulo

Adeptos da astrologia podem até enxergar na queda do dólar um sinal de desanuviamento para o novo ano

O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, completa 62 anos neste sábado, 25 de janeiro. E o mês que antecedeu seu aniversário faz jus ao conceito popular de inferno astral.

A disseminação de informação falsa sobre taxação de operações via Pix, a partir de uma norma da Receita Federal, abalou o governo e a imagem do ministro. Foi obrigado a recuar.

Às vésperas do aniversário, Haddad foi repreendido, interna e publicamente, pelo presidente Lula (PT), que também cobra dele medidas para redução do preço dos alimentos.

Nomeado em janeiro, o novo chefe da Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência), Sidônio Palmeira, chegou ao Palácio do Planalto como mais um conselheiro de Lula em matéria econômica.

Sidônio reforça o time dos que defendem ações populares, como a isenção de Imposto de Renda até R$ 5 mil compensada pela taxação de ricos _ na contramão do ajuste exigido pela Faria Lima e do cronograma idealizado pelo titular da Fazenda.

A provável entrada da presidente do PT, Gleisi Hoffmann (PR), na Esplanada dos Ministérios engrossará, no entorno de Lula, a crítica à austeridade fiscal. Sob presidência dela, o PT definiu a política econômica como "austericídio fiscal".

Adeptos da astrologia podem até enxergar na queda do dólar um sinal de desanuviamento para o novo ano de Haddad. A eleição do ex-prefeito Edinho Silva para a presidência do PT poderá garantir inédito apoio partidário ao ministro.

Mas não há conjunção astral capaz de abrandar os desafios que o ministro terá pela frente. A começar pela trajetória da dívida pública, definida por ele como uma "batata quente".

Projeções do Tesouro apontam para o risco de a dívida bruta atingir um pico de 83,1% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2028, em um ambiente de desaceleração econômica.

Há ainda a especulação financeira. E a voracidade do Congresso, em crise de abstinência após suspensão temporário do pagamento de suas emendas.

Há também resistência de magistrados e militares à redução de seus privilégios. Não há cenário astrológico possível para implementação de justiça tributária no Brasil.

 

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