É pouco. O Presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, soou um alarme desqualificador das teses ambientalistas que dão sustentação a toda essa mobilização mundial pelo clima, suspendendo as doações financeiras do País para as finalidades climáticas, contaminando alguns dos maiores doadores globais de recursos para esse tipo de Conferência, chancelada pela Organização das Nações Unidas, e até para a Amazônia, carro chefe do Brasil na Conferência. A COP de Belém é a trigésima edição, sem avanços significativos.
Os 198 países membros da Conferência comprometeram-se em adotar providências internas para conter o aumento da temperatura média no Planeta em "1,5°C acima dos níveis pré-industriais". Em Belém, está pautado para acontecer a apresentação da segunda rodada das Contribuições Nacionalmente Determinadas (NDCs) e dos planos de ação climática de cada país. Mas, não se espera muito dos relatórios, senão retórica abundante, iniciativas reais modestas, dados imprecisos e muita omissão.
Além disso, para ganhar legitimidade, a COP 30 precisa reunir presencialmente 2/3 (132) das 198 nações que fazem parte da Conferência. Até este meado de outubro, somente 87 países tinham reservas na cidade, e as acomodações, a US$ 197 (R$ 1.057,00) a diária, já haviam se esgotado. A sanha arrecadatória está afugentando os bancos, aos quais quer-se legar a obrigação de financiar as delegações dos países mais pobres.
A realização dessa Conferência é vital para o Brasil, não só pelo prestígio político buscado, mas porque um dos principais temas, incluídos na Agenda, é a criação do Fundo de Florestas Tropicais (TFFF), cuja finalidade seria financiar a proteção da Amazônia e outros ecossistemas vulneráveis existentes no mundo. Projetou-se a meta de captação de US$ 1,5 trilhão. Nessa linha de "tirar dos ricos" e alterar a arquitetura financeira, o Brasil tenta ainda estimular o mercado do "crédito de carbono", uma concorrência voluntária entre grandes empresas para marcar presença na proteção ambiental, no caso, da Amazônia. É a adoção do chamado compromisso ESG - Environmental, Social and Governance, e que promoveria a reputação corporativa e resultados sustentáveis para os participantes.
O Brasil quer assumir a liderança desse processo. Mas, enquanto o Governo tenta atrair grandes empresas para a defesa da Amazônia e das comunidades ancestrais, ao mesmo tempo vive engasgado com ideias ambíguas de exploração de minérios em terras indígenas e de petróleo na foz do rio Amazonas, contradizendo a si próprio nos aconselhamentos protecionistas passado aos pares, com o propósito de atraí-los para à transição energética limpa. Nosso Presidente prega por aí a necessidade de sair da dependência do combustível fóssil. Para dar força aos argumentos, procura-se ignorar que está se referindo a principal fonte de financiamento de boa parte das economias do mundo, sobretudo do Oriente Médio, e da própria Rússia, de Vladimir Putin, que precisa vender seu petróleo, e captar recursos para financiar sua indústria de guerra. Trump aconselha: Parem de comprar petróleo russo que a guerra acaba.
Em tom de esperteza, carregando consigo uma suposta confiança e intimidade com líderes mundiais, nosso Presidente declara que com a COP vai saber se Trump, dos Estados Unidos; Ji Jinping, da China; Emmanuel Macron, da França, estão mesmos preocupados em resolver os problemas climáticos. Omitiu a Rússia, que tem igual responsabilidade, e vive despejando drones com bombas na Ucrânia, destruindo terras de produção de alimentos e florestas nativas.
Concomitantemente, sem querer se comprometer, mas já comprometendo os brasileiros, nosso Presidente vacila provincianamente no discurso. Depois de tantas viagens para o exterior, já era tempo de abandonar a retórica ufanista, fundada na ideia de ser Brasil o "maior", maior riqueza em floresta viva; o "primeiro", o primeiro a adotar o combustível verde; o "melhor", vamos fazer a melhor COP; "nunca antes", nunca antes nesse mundo. Enfim, o professor Cristovam Buarque defende, em livro, que viagens internacionais trazem intrínseco um desenvolvimento crítico cognitivo. Portanto, não adianta tentar fazer bonito, com recursos retóricos, ignorando estatísticas digitalizadas e estudos, via satélite, realizados pelas mais respeitáveis instituições de pesquisa do mundo.
Mas, não tem jeito. É assim que acontece: O Brasil vai se apresentar na COP como o único país que tem estabelecido a meta de zerar o desmatamento em 2030 e alcançar a neutralidade do carbono em 2050. Pelas previsões, mais políticas e menos ambientais, até 2035, o Brasil promoverá uma redução de até 67 % nas emissões de carbono. O País já contaria com 45% da sua matriz energética limpa e 90% da sua matriz elétrica alimentada por fontes renováveis. " Somos, com certeza, um dos melhores endereços no mundo para investimentos verdes", arremata a ministra do Meio Ambiente.
Não se sabe se esses números que serão apresentados na COP 30 serão reconhecidos para sensibilizar as fontes doadoras de recursos para o meio ambiente. O Brasil já teve a chance de liderar este processo, se tivesse apresentado suas teses com mais cientificidade. No momento, até a ideia da "sustentabilidade com inovação"(Prêmio Nobel, 2025), que alimenta a política ambiental no Planeta há mais de 40 anos, é questionada como políticas públicas nas COPs. Fazendo mais política que ciência, vamos perdendo o trem da história. Chegamos perto de servir de referência para o grupo dos Biodiversos das Nações Unidas. Sem nunca ter sido contemplado com um Nobel, somente indicações - dom Hélder, Irmãos Villas Boas, ministro Alysson Paulinelli -, os brasileiros se acham inteligentes. Tudo bem. Isso vale para os cearenses. Mas, não se esqueça que os outros não são burros. As campanhas políticas eleitorais de 2026 tendem a engolir os resultados da COP 30 no Brasil.
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