quarta-feira, 15 de janeiro de 2025

Começou a campanha para o Lula 4 - Nilson Teixeira

Valor Econômico

Ambiente exigirá a construção pelo governo de uma agenda com apelo não apenas para os eleitores de esquerda, mas também para aqueles que se associam ao centro e, no limite, à centro-direita

Políticos dificilmente se satisfazem com um único mandato, buscando quase sempre ampliar sua influência e alcançar cargos mais altos. Mesmo quando eleitos com o discurso de busca de apenas um exercício, a maioria dos ocupantes de cargos eletivos muda de ideia e termina por pleitear a reeleição. As justificativas são variadas, sendo a mais frequente o desejo de completar o trabalho ainda não concluído. O presidente Lula é um exemplo. A menos que haja contratempos de saúde, Lula buscará a reeleição, mesmo tendo sugerido que o seu terceiro mandato poderia ser o último.

Uma das razões da vitória de Lula sobre o ex-presidente Jair Bolsonaro na eleição de 2022 foi a crença de que sua escolha afastaria o risco de instalação de um regime autoritário de direita. Apesar de possivelmente fazer parte da campanha de 2026, essa plataforma não parece capaz de ser o fio condutor da reeleição, mesmo com a alegação de que alguns membros do governo passado agiram de forma incompatível com o regime democrático.

O benefício para Lula de ser o candidato incumbente não parece mais tão determinante, dada a marcante divisão da sociedade entre esquerda, centro e direita a partir da eleição de Bolsonaro em 2018. O ex-presidente foi capaz de agregar politicamente a pauta conservadora, já disseminada com a proliferação de igrejas evangélicas. A campanha eleitoral no município de São Paulo em 2024 também comprovou que um candidato com perfil mais à direita tem um percentual elevado de eleitores, o que dificulta o sucesso de um postulante de esquerda, mesmo com Lula sendo o incumbente.

Essa dinâmica será reforçada pelo fortalecimento da direita em vários países e, mais recentemente, nos EUA. As recentes decisões de redes sociais, em particular do X e da Meta, de não checar mais a veracidade dos fatos e de abrandar as regras de moderação também sugerem que a maior presença de membros da direita nas plataformas digitais pode ser mais decisiva na campanha de 2026.

Nesse contexto, o atual governo tem negociado maior participação nos ministérios de partidos de centro e de centro-direita em troca de sustentação parlamentar e de apoio à reeleição de Lula. A presença no governo desses partidos, porém, não crescerá muito, pois o PT reagirá contra a cessão de ministérios com orçamentos polpudos. Além disso, essa participação não garante o apoio em 2026 de agremiações cujas lideranças nacionais têm limitada influência nas estruturas regionais. Essa leitura é compatível com a expectativa de que alguns partidos entregarão seus cargos no próximo ano alegando preferências internas de neutralidade ou mesmo de apoio a outros candidatos na eleição presidencial.

Agenda social será aspecto central, em função da melhoria das condições de vida das camadas mais pobres

A conjuntura torna a eleição em julho dos diretórios municipais, estaduais e nacional do PT ainda mais essencial para a campanha de Lula. A sua atual presidente Gleisi Hoffmann, eleita em 2017, 2019 e 2021, teve a missão de evitar que a operação Lava Jato e, posteriormente, a prisão de Lula por quase dois anos tivessem implicações irreversíveis para o partido. As eleições deste ano terão outro objetivo: pavimentar a escolha de um diretório nacional com forte influência nos diretórios locais para garantir o respaldo à reeleição de Lula em troca do apoio a candidatos de partidos de centro e de centro-direita nas disputas estaduais majoritárias. O PT estará, portanto, a reboque da candidatura presidencial, mesmo ciente do enfraquecimento da sua representatividade regional.

Ao mesmo tempo, esse ambiente exigirá a construção pelo governo de uma agenda com apelo não apenas para os eleitores de esquerda, mas também para aqueles que se associam ao centro e, no limite, à centro-direita. A escolha de Sidônio Palmeira - publicitário das campanhas presidenciais de Lula em 2022 e de Fernando Haddad em 2018, bem como das últimas cinco campanhas vitoriosas do PT ao governo da Bahia - para a Secretaria de Comunicação Social da Presidência antecipa a campanha e a traz para dentro do governo já no início da segunda metade do mandato. O objetivo é o de dar maior publicidade às ações do governo, divulgando temas para alavancar o esforço eleitoral de 2026.

A recente campanha publicitária “Brasil Melhor” do governo federal tem valorizado o crescimento da economia de cerca de 6,5% nos dois primeiros anos da gestão e a menor taxa de desemprego da série histórica iniciada em 2012. O consenso de mercado prevê, porém, desaceleração desse crescimento em 2025 e em 2026 para cerca de 2% ao ano, com inflação muito acima da meta, o que, apesar de não afastar a candidatura de Lula, dificultará que o tema econômico seja festejado na jornada pela reeleição.

Sendo assim, a agenda social será o aspecto central da campanha, em função da redução da pobreza e da melhoria das condições de vida das camadas mais pobres. O foco no social já está presente na divulgação do Programa Pé de Meia, incentivo financeiro para permanência e conclusão do ensino médio em escolas públicas dos alunos inscritos no Cadastro Único de programas sociais do governo federal. Por essa razão, apesar das restrições fiscais, o governo tende a aumentar os benefícios do Bolsa Família em 2026 para atrair mais votos dos beneficiários do programa. Por fim, Lula continuará pressionando o Ministério da Saúde para obter resultados em uma área igualmente sensível para a população.

Em suma, o tabuleiro político para o pleito de 2026 está longe de definido, por conta da incerteza sobre os candidatos da oposição e de dúvidas sobre a manutenção da boa saúde de Lula até outubro do próximo ano, dada a sua avançada idade. Alguns adversários políticos, como o governador Ronaldo Caiado (GO), já apresentaram seus nomes. Todavia, o ex-presidente Bolsonaro, principal cabo eleitoral da oposição, não está inclinado, por ora, a sacramentar outro nome que não o seu. Embora seja cedo para projeções robustas sobre as eleições de 2026, uma coisa é certa: o jogo já começou.

 

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