O presidente nacional do PSDB, senador Sérgio Guerra, dá entrevista ao GLOBO em que fala da necessidade de a oposição se recompor, se reestruturar. Diz coisas sensatas: que o partido precisa ganhar um caráter nacional (sutil referência à hegemonia paulista que tem vigorado até agora). "A impressão é que o partido é comandado por um pequeno grupo", ele acrescenta, tomando o cuidado de elogiar a qualidade desse grupo. "Há clara falta de sintonia entre o partido e setores sociais emergentes." Ele exemplifica dizendo que o partido ganhou as eleições nos grandes centros, mas perdeu nos grotões. E, nos grotões, a derrota foi acachapante.
É justo dizer - como faz o senador - que, na campanha recém-finda, a máquina pública foi usada sem a menor cerimônia contra a oposição. Ele também se refere à popularidade ímpar do presidente - assim como o sociólogo Alain Touraine, que, numa outra entrevista, classificou de "impossível" derrotar Lula no contexto de agora. Mas nada disso deve servir de biombo à necessidade urgente de uma reorganização que não fique só na superfície.
É verdade que a oposição conseguiu 40 milhões de votos, e a vitória em dez estados, incluindo Minas e São Paulo. Mas as deficiências da campanha ficaram por demais evidentes.
Faltaram definições básicas - inclusive sobre o papel que cabe a uma oposição no regime democrático. A impressão que se tinha, na primeira fase da campanha, era de que os partidos de oposição concordavam com a tese de que o Brasil começou em 2002. O medo de criticar o governo passava exatamente essa mensagem: de que, por um passe de mágica, o lulismo tinha resolvido os nossos principais problemas, e que só restava agora descobrir o que fazer "depois de Lula", para dar continuidade ao Grande Timoneiro.
Assim pôde prosperar uma imensa injustiça: o esquecimento do que representaram, para o Brasil, os dois mandatos de Fernando Henrique, em que se derrubou, finalmente, o monstro inflacionário, em que se acertaram as finanças dos estados, em que se fez uma Lei de Responsabilidade Fiscal e - last but not least - em que se ensinou o país a viver sem sobressaltos, sem crises políticas inventadas artificialmente, sem ameaças de golpe.
Foi esse Brasil novo que o presidente Lula herdou. Sobre essas bases ele pôde investir numa redistribuição de renda que seria impossível se ele tivesse recebido uma "herança maldita" - o pavoroso mantra que ele acaba de repetir em Seul.
Nada disso apareceu na campanha da oposição. O que se viu foi uma campanha errática, que só mais para o final deu sinais de crítica a atos ou posturas do governo. E, já no desespero da derrota que se aproximava, o candidato oposicionista adotou um discurso que tinha sinais inequívocos de demagogia.
São essas incongruências que precisam ser resolvidas; e, sobretudo, a definição do que seja um estado moderno. Até agora, deixou-se prosperar a ideia de que o Estado é o grande benfeitor, de quem se espera a resolução de todos os problemas. É um modo de criar uma sociedade infantilizada, e, um pouco adiante, o tipo de desastre financeiro que põe no vermelho países ditos desenvolvidos, como os da Europa.
É justo dizer - como faz o senador - que, na campanha recém-finda, a máquina pública foi usada sem a menor cerimônia contra a oposição. Ele também se refere à popularidade ímpar do presidente - assim como o sociólogo Alain Touraine, que, numa outra entrevista, classificou de "impossível" derrotar Lula no contexto de agora. Mas nada disso deve servir de biombo à necessidade urgente de uma reorganização que não fique só na superfície.
É verdade que a oposição conseguiu 40 milhões de votos, e a vitória em dez estados, incluindo Minas e São Paulo. Mas as deficiências da campanha ficaram por demais evidentes.
Faltaram definições básicas - inclusive sobre o papel que cabe a uma oposição no regime democrático. A impressão que se tinha, na primeira fase da campanha, era de que os partidos de oposição concordavam com a tese de que o Brasil começou em 2002. O medo de criticar o governo passava exatamente essa mensagem: de que, por um passe de mágica, o lulismo tinha resolvido os nossos principais problemas, e que só restava agora descobrir o que fazer "depois de Lula", para dar continuidade ao Grande Timoneiro.
Assim pôde prosperar uma imensa injustiça: o esquecimento do que representaram, para o Brasil, os dois mandatos de Fernando Henrique, em que se derrubou, finalmente, o monstro inflacionário, em que se acertaram as finanças dos estados, em que se fez uma Lei de Responsabilidade Fiscal e - last but not least - em que se ensinou o país a viver sem sobressaltos, sem crises políticas inventadas artificialmente, sem ameaças de golpe.
Foi esse Brasil novo que o presidente Lula herdou. Sobre essas bases ele pôde investir numa redistribuição de renda que seria impossível se ele tivesse recebido uma "herança maldita" - o pavoroso mantra que ele acaba de repetir em Seul.
Nada disso apareceu na campanha da oposição. O que se viu foi uma campanha errática, que só mais para o final deu sinais de crítica a atos ou posturas do governo. E, já no desespero da derrota que se aproximava, o candidato oposicionista adotou um discurso que tinha sinais inequívocos de demagogia.
São essas incongruências que precisam ser resolvidas; e, sobretudo, a definição do que seja um estado moderno. Até agora, deixou-se prosperar a ideia de que o Estado é o grande benfeitor, de quem se espera a resolução de todos os problemas. É um modo de criar uma sociedade infantilizada, e, um pouco adiante, o tipo de desastre financeiro que põe no vermelho países ditos desenvolvidos, como os da Europa.
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