Após baixar os juros, o BC elevou a previsão de inflação deste ano de 5,8% para 6,4%. E disse que a economia deve crescer menos.
Até BC admite meta mais distante
Previsão de inflação sobe de 5,8% para 6,4%. Crescimento da economia deve ser menor
Gabriela Valente, Fabiana Ribeiro e Marcus Vinicius Gomes*
OBanco Central aumentou a previsão para o Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) para este ano, de 5,8% para 6,4%. Isso significa que nunca foi tão grande, este ano, a possibilidade de o país estourar a meta, cujo teto é de 6,5%. Segundo o próprio BC, há 45% de chance de o objetivo não ser cumprido, o que levaria a autoridade monetária a ter de se explicar em uma carta aberta ao ministro da Fazenda. Ao mesmo tempo, o BC reduziu a projeção de crescimento da economia de 4% para 3,5%, no seu relatório de inflação divulgado ontem.
"Cabe informar ainda que a probabilidade estimada de a inflação ultrapassar o limite superior do intervalo de tolerância da meta em 2011, segundo o cenário de referência, situa-se em 45%. Para 2012, essa probabilidade se encontra em torno de 12%", diz o relatório. Para o ano que vem, a previsão ultrapassou o centro do objetivo de 4,5% e chegou a 4,7%. Mesmo assim, o BC avisa: os cortes nos juros vão continuar.
- O Copom (Comitê de Política Monetária) entende que, ao tempestivamente, mitigar os efeitos vindos de um ambiente global mais restritivo, ajustes moderados no nível da taxa básica são consistentes com o cenário de convergência da inflação para a meta em 2012 - disse o diretor de Política Econômica da instituição, Carlos Hamilton.
A aposta é que a queda nos preços das commodities vai ajudar o BC a cumprir sua tarefa. Além disso, os efeitos de um cenário internacional pior que o esperado ajudarão no combate à inflação. De acordo com o diretor, apesar de as projeções estarem acima do centro da meta, ele será atingido em 2012, porque a crise tem o poder de controlar os preços.
Para este ano, o BC diz que é possível ficar abaixo do limite máximo. Hoje, os preços acumulam alta de 7,2% em 12 meses. Carlos Hamilton negou que o BC tenha perdido o momento oportuno para começar a subir os juros em 2010, ano eleitoral e, por isso, a inflação tenha ficado tão alta.
Indústria provocou revisão de PIB
A projeção revista para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos pelo pais) do BC de 3,5% se distanciou ainda mais dos outros órgãos do governo, como os ministérios da Fazenda e do Planejamento, que mantêm projeção de alta de 4,5%.
Perguntado sobre essa disparidade, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, mudou de assunto:
- Eu pensei que vocês fossem me perguntar da aprovação do Fundo Europeu pelo parlamento alemão. Essa é uma notícia muito boa.
O corte na projeção de expansão do Produto Interno Bruto (PIB) foi causado por quedas na indústria.
O presidente do Banco Central, Alexandre Tombini, disse que o aperto monetário do início do ano ainda fazem efeito sobre a economia e, por isso, a inflação está sendo direcionada para a meta. Ele participou da abertura do 22º Congresso Nacional de Executivos de Finanças (Conef), em Curitiba.
- A política monetária tem uma defasagem de seis a nove meses e parte dessa aperto ainda será sentida - disse Tombini. - Nós adotamos a prática de dar um passo atrás e olhar a situação do Brasil em perspectiva.
Apesar da projeção para o IPCA para 2012 estar em 4,7%, Tombini disse que a inflação deve cair de 1,5 ponto percentual no IPCA até abril de 2012, que deve chegar em dezembro a 4,5%, o centro da meta do governo.
- Já vemos um padrão de inflação mais em linha com a meta.
Vários fatores explicam a piora nas expectativas do BC, comenta Alcides Leite, professor da Trevisan Escola de Negócios. O comportamento das commodities - que ainda sustentam cotações elevadas a despeito da crise internacional - e do dólar contribuem para explicar a decisão do BC:
- O BC já não olha mais para a meta da inflação, mas sim para a meta de reduzir juros.- afirmou Leite, que prevê inflação um pouco acima de 6,5%.
Para Fábio Romão, da LCA Consultores, o IPCA deve encerrar 2011 em 6,3%: o cenário externo deve ajudar a conter a inflação de 2012.
(*) Especial para O GLOBO
FONTE: O GLOBO
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