O ex-presidente da República Fernando Henrique Cardoso afirmou ontem que considera arriscada a redução da taxa básica de juros feita pelo Banco Central em decisão tomada na reunião do Conselho de Política Monetária (Copom). Fernando Henrique disse que a decisão foi no "fio da navalha" e já se mostra precipitada.
"Hoje [ontem] o Banco Central deu uma nota preocupante. Prevê menos crescimento e mais inflação. Então, se você olhar pelo que foi dito hoje, foi precipitado", disse o ex-presidente, após participar de uma palestra sobre democracia brasileira no Centro Ruth Cardoso, na capital paulista. No início do mês, o Copom surpreendeu o mercado e reduziu a taxa de juros em meio ponto percentual, para 12%.
Fernando Henrique Cardoso se mostrou preocupado em relação ao controle da inflação pelo governo. Caso ocorra um afrouxamento, disse, "o povo vai sentir e reagir".
"Para não afrouxar, tem que ser mais rigoroso no lado fiscal para sustentar essa diminuição nos juros. (...) Tem que ter política fiscal mais rigorosa. Não estou vendo isso", criticou.
O ex-presidente disse que a economia mundial está de tal maneira instável que fica difícil de fazer um julgamento.
"Entendo os argumentos de por que se reduzir os juros, embora sejam arriscados", completou Fernando Henrique.
Sobre a atual polêmica em torno da redução de poderes do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para punir juízes, o ex-presidente afirmou ser contrário à alteração. "É preciso manter a força do CNJ. É um retrocesso corporativo", disse.
FHC afirmou que o CNJ foi criado justamente porque havia uma sensação generalizada de que os mecanismos normais de punição de magistrados não funcionavam, devido ao corporativismo.
Fernando Henrique se mostrou reticente com relação a um possível acordo sobre o assunto.
"Tudo bem, mas desde que não impeça que o CNJ seja acionado. Quando a corregedoria [dos tribunais] não atua, que atue o CNJ. Porque se a corregedoria não atuar, nem o CNJ, não acontece nada".
A ação que está sendo julgada pelo Supremo Tribunal Federal (STF) foi proposta pela Associação dos Magistrados Brasileiros (AMB) e contesta a competência do CNJ para investigar e julgar denúncias de irregularidades contra juízes e desembargadores.
O tucano também se disse contrário à aprovação de um novo imposto para a saúde, nos moldes da extinta Contribuição Provisória Sobre Movimentação Financeira (CPMF).
Fernando Henrique citou o discurso do presidente da Câmara dos Deputados, Marco Maia (PT), na posse de Paulo Skaf na presidência da Fiesp.
"Ele disse que não precisa, basta organizar o orçamento. Não vou ser mais realista que o rei, do que o presidente da Câmara, que é do PT. Todo mundo reclama que a carga tributária no país é alta. Para que mais imposto?", questionou.
Fernando Henrique participou da palestra da professora Frances Hagopian, da Universidade de Harvard, sobre "Partidos programáticos, democracia participativa e mudança na política social no Brasil".
FONTE: VALOR ECONÔMICO
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