Amigo de Dirceu, Luiz Carlos Barreto colhe assinaturas em documento para
pedir ao STF atenção "à preservação dos direitos constitucionais"
Felipe Werneck
RIO - O cineasta e produtor Luiz Carlos Barreto, conhecido como Barretão,
disse ontem que está preocupado com o "transcorrer das coisas" e a
"garantia dos direitos individuais" no julgamento do processo do
mensalão pelo Supremo Tribunal Federal. "Analisando bem, eu me sinto
ameaçado como cidadão", afirmou Barretão, que questiona o que chamou de
prevalência da presunção em detrimento de provas materiais.
Amigo do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, um dos 37 réus do processo
do mensalão, o cineasta tomou a iniciativa de colher assinaturas em um
documento que, segundo ele, será encaminhado aos ministros do Supremo nos
próximos dias. "Não é um manifesto, é uma manifestação", acrescentou.
Barretão disse que o documento será impessoal. Portanto, não haverá menção a
nenhum dos réus do processo do mensalão. "Não estamos falando de Zé Dirceu
nem pedindo a absolvição de réu nenhum", afirmou.
Na quinta-feira, o ministro Joaquim Barbosa, relator do caso no STF, adiou a
leitura de seu voto referente à acusação de corrupção ativa contra Dirceu. Ele
só deve começar a julgar o ex-ministro na semana que vem, às vésperas da
eleição.
De acordo com Barretão, a iniciativa tem três objetivos: "Primeiro, que
o julgamento não se transforme em um show, que não tenha esse caráter de
espetacularidade que está tendo. Segundo, que seja realizado pelo tribunal, e não
fora do tribunal; e, terceiro, que sejam respeitados os direitos
constitucionais inerentes ao Estado democrático de direito. Em síntese, é
isso."
Artistas. Segundo Barretão, o documento reúne cerca de 200 assinaturas de
pessoas preferencialmente dos meios artístico e intelectual, como Eric
Nepomuceno, Oscar Niemeyer, Tizuka Yamasaki, Flora Gil, Jorge Mautner, Alceu
Valença, Antonio Pitanga, Bruno Barreto e Luiz Carlos Bresser Pereira,
economista que deixou o PSDB.
O cineasta disse que o documento não está acabado. "Estamos recebendo
adesões e sugestões." O cineasta frisou que o texto manifesta a confiança
de que o Supremo está atento à preservação dos direitos constitucionais.
"É um documento que reafirma a confiança no espírito democrático dos
juízes encarregados do julgamento. Não tem nenhum sentido de confronto ou
desafio."
Para Barretão, chamar o texto de manifesto é uma incorreção. "Parece
até que estamos clandestinamente nos organizando, como se fosse na ditadura. É
um documento que não tem caráter de manifesto, de inquirir. Não estamos nos
opondo a nenhuma ideia." Segundo ele, "coincidências" não podem
ser confundidas com provas. "Reunindo coincidências daqui e dali pode-se
constituir um ato de ofício."
Fonte: O Estado de S. Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário