terça-feira, 25 de setembro de 2012

Cineasta questiona julgamento do mensalão


Amigo de Dirceu, Luiz Carlos Barreto colhe assinaturas em documento para pedir ao STF atenção "à preservação dos direitos constitucionais"

Felipe Werneck

RIO - O cineasta e produtor Luiz Carlos Barreto, conhecido como Barretão, disse ontem que está preocupado com o "transcorrer das coisas" e a "garantia dos direitos individuais" no julgamento do processo do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal. "Analisando bem, eu me sinto ameaçado como cidadão", afirmou Barretão, que questiona o que chamou de prevalência da presunção em detrimento de provas materiais.

Amigo do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu, um dos 37 réus do processo do mensalão, o cineasta tomou a iniciativa de colher assinaturas em um documento que, segundo ele, será encaminhado aos ministros do Supremo nos próximos dias. "Não é um manifesto, é uma manifestação", acrescentou. Barretão disse que o documento será impessoal. Portanto, não haverá menção a nenhum dos réus do processo do mensalão. "Não estamos falando de Zé Dirceu nem pedindo a absolvição de réu nenhum", afirmou.

Na quinta-feira, o ministro Joaquim Barbosa, relator do caso no STF, adiou a leitura de seu voto referente à acusação de corrupção ativa contra Dirceu. Ele só deve começar a julgar o ex-ministro na semana que vem, às vésperas da eleição.

De acordo com Barretão, a iniciativa tem três objetivos: "Primeiro, que o julgamento não se transforme em um show, que não tenha esse caráter de espetacularidade que está tendo. Segundo, que seja realizado pelo tribunal, e não fora do tribunal; e, terceiro, que sejam respeitados os direitos constitucionais inerentes ao Estado democrático de direito. Em síntese, é isso."

Artistas. Segundo Barretão, o documento reúne cerca de 200 assinaturas de pessoas preferencialmente dos meios artístico e intelectual, como Eric Nepomuceno, Oscar Niemeyer, Tizuka Yamasaki, Flora Gil, Jorge Mautner, Alceu Valença, Antonio Pitanga, Bruno Barreto e Luiz Carlos Bresser Pereira, economista que deixou o PSDB.

O cineasta disse que o documento não está acabado. "Estamos recebendo adesões e sugestões." O cineasta frisou que o texto manifesta a confiança de que o Supremo está atento à preservação dos direitos constitucionais. "É um documento que reafirma a confiança no espírito democrático dos juízes encarregados do julgamento. Não tem nenhum sentido de confronto ou desafio."

Para Barretão, chamar o texto de manifesto é uma incorreção. "Parece até que estamos clandestinamente nos organizando, como se fosse na ditadura. É um documento que não tem caráter de manifesto, de inquirir. Não estamos nos opondo a nenhuma ideia." Segundo ele, "coincidências" não podem ser confundidas com provas. "Reunindo coincidências daqui e dali pode-se constituir um ato de ofício."

Fonte: O Estado de S. Paulo

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