terça-feira, 25 de setembro de 2012

A oposição tenta se reconstruir - Raymundo Costa


A oposição refez sua avaliação sobre o resultado da eleição. Há seis meses, a ideia tanto no PSDB, no Democratas e no PPS é que esses partidos sairiam destroçados na eleição de 7 de outubro. A presidente Dilma Rousseff saiu-se melhor que o esperado no governo e os tucanos apenas tinham convicção de ganhar em Belém do Pará e em Teresina, a capital do Piauí, tradicional reduto do partido.

Favorito mesmo, só Antonio Carlos Magalhães Neto, em Salvador, e Marcio Lacerda, em Belo Horizonte. À época, pois desde então o candidato petista Nelson Pelegrino cresceu uma boa fatia de pontos em Salvador e Lula estará na cidade no fim de semana para tentar turbinar ainda mais o candidato do PT.

Não é fácil, porque ACM Neto já está na faixa dos 46 pontos, mas em se tratando de Lula e de eleições nada é impossível, como ele já demonstrou em outras disputas.

A oposição acredita que o lulismo já não existe da forma que existiu, em que Deus nomeava o inquilino do Palácio do Planalto. Prova disso tem sido o desempenho de seu candidato a prefeito de São Paulo, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad.

No primeiro comício de Lula em Belo Horizonte, terra natal de Dilma, em apoio à candidatura de Patrus Ananias, havia pouco mais de 3 mil presentes.

Na oposição também há avaliações de que Lula está descompensado, diante da quantidade de erros que nem PSDB, nem DEM ou PPS julgavam que ele poderia cometer: a carta que exigiu de Dilma uma resposta sobre as manifestações de FHC em torno do mensalão e o veto à isenção de produtos da cesta básica.

Há outros elementos a animar a oposição.

A movimentação de Eduardo Campos no Nordeste é um deles. O governador de Pernambuco e presidente do PSB de uma só tacada pode derrotar três prefeitos de capitais importantes do Nordeste, território do lulismo. Não é à toa que Lula se apressa a ir a Salvador dar uma ajuda a Nelson Pelegrino e ouvir alguns pedidos de Geddel Vieira Lima para assegurar apoio no segundo turno, se houver. Enfim, ele já não aponta o dedo e as pessoas seguem.

Atualmente, o PSB disputa Recife (com favoritismo), Fortaleza, Belo Horizonte (com boas possibilidades) e Curitiba. Sim, Curitiba do candidato Gustavo Fruet do PDT, que foi um implacável relator do mensalão, quando era filiado ao PSDB, e que hoje está aliado ao PT na eleição.

Fruet e o governador Beto Richa se desentenderam e o deputado que relatou o mensalão trocou de cores e passou a defender o PDT.

Evidentemente a oposição não acha que vai ganhar a eleição, mas está se convencendo que não será destroçada, como chegou a imaginar depois da terceira derrota para o PT. E está certa de que vai fazer um bom papel em João Pessoa, Maceió (onde Aécio estará nesta semana para um ato eleitoral com Rui Palmeira, irmão do ex-senador Guilherme Palmeira), Campo Grande, Palmas (em parceria com o PV), e Belém, com o deputado federal Zenaldo Coutinho.

Aécio foi a Porto Alegre, mas o objetivo na capital do Rio Grande do Sul está em outro partido da base. E ainda fez um afago na ex-governadora Yeda Crusius. A campanha da oposição tem a expectativa de ficar com a maioria dos votos dos três Estados do Sul por afinidades como o agronegócio, entre outras coisas.

Em Vitória, o ex-governador Paulo Hartung reconciliou-se com o ex-prefeito e ex-deputado Luiz Paulo Vellozo Lucas. Em 2014 podem estar de novo no mesmo palanque.

O clima entre os tucanos, beligerante nas três últimas derrotas para o PT, nacionalmente, também amenizou. Mas a exemplo do PT, os tucanos também são chegados as dar tiros no próprio pé.

Exemplo bem recente: o ex-senador Arthur Virgílio estava disparado nas frente, nas pesquisas para prefeito de Manaus, quando o governo de São Paulo moveu com uma ação contra a Zona Franca de Manaus (AM). A Zona Franca sempre foi o inferno de Serra na região Norte, porque se dizia que ele era contrário.

A adversária de Arthur Virgílio, Vanessa Grazziotin, já subiu nas pesquisas e ameaça seriamente o tucano.

O PT parece calcular melhor esses passos: está nos jornais que a gasolina vai aumentar. Mas só dia 8, um dia depois da eleição Em 2002, o governo FHC aumentou o preço do gás de cozinha às vésperas do 1º turno.

Em Porto Alegre, Yeda Crusius trabalhou contra a candidatura de Nelson Marchezan Filho, que mesmo com traço nas pesquisas ainda teria mais chances que o escolhido por Yeda.

Um exemplo recente de que a oposição descobriu que precisa se conciliar para não ser mesmo destroçada: os três partidos constituíram grupo para analisar temas da atualidade para serem levados à rua em 2013.

A questão da Federação é sempre lembrada por Aécio. Gestão pública entra para lembrar o "aparelhismo" do PT. Segurança pública e saúde, também. Aliás, Dilma mandou Alexandre Padilha falar de saúde em BH, e não pegou bem.

Desde o império os mineiros acham que seus problemas devem ser resolvidos por eles.

A gafe petista foi do próprio Lula, em Porto Alegre, quando disse que presidente, governador e prefeito do mesmo partido ajudam os Estados e as cidades. E até disse que Dilma era gaúcha, para o gáudio dos mineiros.

A avaliação dos oposicionistas é que a situação política mude depois das eleições municipais. O Brasil tem 30 partidos registrados (e 29 habilitados a disputar eleições). É uma situação difícil de ser mantida. A tendência seria a agregação de líderes e o país caminhar para um número menor de partidos.

Podem ser Aécio, Eduardo Campos ou, quem sabe, um nome da moda como Joaquim Barbosa e Ayres Britto. Pode não dar para levar desta vez mas cria condições para 2018.

Em 2014, por mais que considere que está melhor do que há seis meses, a oposição vê poucas chances de mudança.

A situação toda muda, é claro, se José Serra vencer as eleições em São Paulo, o que daria força ao PSDB.

Em São Paulo, é efetivo o acordo - ou entendimento - de que se José Serra for eleito prefeito de São Paulo, ele ficará no cargo até o fim, pois não teria condições políticas de deixar novamente a prefeitura para concorrer a presidente.

Fonte: Valor Econômico

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