O presidente da
Comissão de Ética Pública da Presidência, Sepúlveda Pertence, renunciou ontem
ao cargo e deixou o colegiado, contrariado pela decisão da presidente Dilma de
não reconduzir dois conselheiros por ele indicados. Um deles, Fábio Coutinho,
recomendara que o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, amigo de
Dilma, fosse advertido por ter prestado consultorias. Já Marília Muricy votou
pela demissão do ministro Carlos Lupi. As decisões irritaram Dilma. Sepúlveda
anunciou a decisão após empossar três conselheiros.
Nova baixa na Ética
Sepúlveda Pertence deixa presidência da Comissão insatisfeito com atitude de
Dilma
Luiza Damé
DESGASTE E CONSTRANGIMENTO
BRASÍLIA Desgastado com o ritmo dos trabalhos da Comissão de Ética Pública
da Presidência, paralisados há cerca de dois meses, e descontente com a não
recondução de dois conselheiros, o presidente do colegiado, Sepúlveda Pertence,
renunciou ontem ao cargo, logo após dar posse aos três novos conselheiros -
Marcello Alencar de Araújo, Mauro de Azevedo Menezes e Antônio Modesto da
Silveira, indicados pela presidente Dilma Rousseff em 3 de setembro. Sepúlveda
deixou clara sua insatisfação com a não recondução dos conselheiros Marília
Muricy e Fábio Coutinho, que poderiam ficar mais três anos na comissão. Os dois
foram duros na avaliação da conduta ética de ministros do governo Dilma.
- Eu vim aqui exclusivamente para empossar os três membros designados pela
presidente da República e demonstrar-lhes a satisfação que tenho com os nomes
e, ao mesmo tempo, que isso nada tem a ver com o fato que lhes comuniquei de
que, neste momento, estou encaminhando à chefe do governo a minha renúncia às
funções de membro e, consequentemente, de presidente da Comissão de Ética -
afirmou Sepúlveda, ao iniciar a reunião de ontem do colegiado.
Pouco antes, ele anunciou sua saída aos servidores da comissão. Sepúlveda
vinha dando sinais de constrangimento com a postura da presidente. Dilma
demorou a nomear os três novos integrantes, o que inviabilizou a realização de
duas reuniões da comissão, marcadas para 27 de agosto e 3 de setembro. Depois, ficou
insatisfeito com a não recondução dos dois conselheiros, cujos votos
contrariaram a presidente.
- Não tenho nada contra os designados. Lamento, devo ser sincero, a não
recondução dos dois membros que eu havia indicado para a comissão e que a honraram
e a dignificaram - disse.
Em maio, numa conversa informal com jornalistas, após a posse do ministro
Dias Toffoli, no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), Sepúlveda disse que estava
ansioso para que acabasse seu mandato na comissão. Ele foi indicado pelo
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em dezembro de 2007, assumiu a
presidência da comissão em fevereiro de 2008, substituindo Marcílio Marques
Moreira, que também renunciou ao cargo. O mandato de Sepúlveda iria até
dezembro de 2013.
Na gestão de Sepúlveda, Dilma se irritou com a rapidez da comissão na
votação do processo contra o ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi. O
procedimento foi aberto em 7 de novembro do ano passado e, no dia 30, a
relatora Marília Muricy apresentou o voto, que foi aprovado. A comissão
recomendou a demissão de Lupi, com base nas denúncias de irregularidades em
convênios do Ministério do Trabalho, que teriam beneficiado o PDT. Lupi pediu
demissão em dezembro. Irritou ainda mais a presidente o fato de a decisão do
colegiado ter chegado antes à imprensa.
No início deste ano, novo embate da Comissão de Ética com Dilma. A comissão
decidiu analisar a conduta do ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel,
que prestou consultorias à Federação das Indústrias de Minas Gerais, que lhe
renderam R$ 2 milhões, entre 2009 e 2010, como revelou o GLOBO em dezembro.
Relator do processo, Coutinho propôs advertência ao ministro por conflito de
interesse, mas o caso está pendente de decisão do colegiado.
Mesmo com a saída de Sepúlveda, com quatro das sete vagas preenchidas, a
comissão pode continuar trabalhando.
- O quorum está restabelecido, e tenho certeza de que a comissão continuará
servindo voluntária e gratuitamente, como sempre, a essa missão às vezes mal
compreendida, mas sempre gratificante, de estabelecer uma cultura de ética no
Poder Executivo Federal - disse Sepúlveda.
Interinamente, a comissão será presidida pelo conselheiro Américo Lacombe, o
mais antigo. Lacombe disse não se sentir constrangido com a saída de Sepúlveda
e negou que a comissão tenha perdido autonomia. Para o conselheiro, é um
direito da presidente reconduzir ou não os conselheiros. A próxima reunião da
comissão está marcada para 22 de outubro.
- Para mim, não causa embaraço nenhum - disse: - Não perde autonomia nenhuma,
porque temos mandato fixo. Durante esse período, ninguém pode ser demitido.
Fonte: O Globo
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