Serra é ótimo gestor. Já Haddad, sem peso próprio, ficará refém dos apetites
do PT. A sua vitória daria ainda excesso de poder ao PT, algo nocivo à
democracia
No dia 7 de outubro, o eleitorado paulistano tomou a sábia decisão de deixar
o candidato Celso Russomanno fora do segundo turno.
Tivesse ele passado a barreira do primeiro turno, hoje estaríamos diante de
uma escolha do gênero "civilização ou barbárie", tal o despreparo do
candidato e o caráter retrógrado da coalizão de forças que o apoiava.
Felizmente, a escolha que agora temos pela frente nos oferece alternativas
melhores. José Serra e Fernando Haddad são, ambos, homens públicos superiores à
media dos seus pares e representam forças políticas com história, programas e
quadros técnicos à altura do desafio de governar São Paulo em uma época de
transformação, uma época muito importante na construção do futuro da cidade.
Pena que, até aqui, para dizer o mínimo, tanta energia tenha sido
desperdiçada na polêmica regressiva sobre os kits contra a homofobia.
Se estamos bem servidos de candidatos à prefeitura, então por que votar em
Serra e não em Haddad?
São três as razões principais do meu voto no candidato do PSDB.
A primeira delas diz respeito à ainda enorme distância que separa os dois candidatos
quanto à experiência e à capacidade demonstrada na gestão da coisa pública.
Serra pode ter vários defeitos, mas, entre as suas muitas e mais numerosas
qualidades, destaca-se o conhecimento dos desafios de uma gestão pública
transformadora, a coragem para enfrentar resistências e interesses quando
convencido de que o enfrentamento é necessário para realizar as transformações
almejadas.
A criação da indústria de medicamentos genéricos é o exemplo mais conhecido,
entre muitos outros. Ela prova tal qualidade de Serra, às vezes confundida com
defeito. Dessa perspectiva, poucos políticos brasileiros nas últimas três
décadas podem ombrear-se a ele.
A segunda razão do meu voto em Serra se refere ao seu peso político próprio.
Também nesse quesito, é grande a desproporção entre os candidatos do PSDB e do
PT.
Haddad deve sua candidatura exclusivamente a Lula. Não construiu uma
carreira política que o levasse à disputa pela prefeitura de São Paulo. Foi
guindado a essa condição pelas mãos do ex-presidente da República.
Isso não o desqualifica nem coloca em xeque a legitimidade de sua
postulação. Falta a Haddad, porém, musculatura política para, se eleito,
governar com suficiente independência em relação às alas e apetites que formam
o PT.
Submetido às naturais pressões do cargo e à característica voracidade da
máquina partidária petista, temo que se torne refém dos interesses partidários
em prejuízo dos interesses maiores da cidade.
Por fim, mas não menos importante, a eleição de Serra é fundamental para
assegurar um certo equilíbrio entre governo e oposição no nível nacional.
O desequilíbrio excessivo entre as forças políticas é ruim para a
democracia. Sabemos que, para o PT, conquistar a prefeitura de São Paulo é
parte de uma estratégia que visa desalojar o PSDB do governo estadual e
consolidar a permanência do partido no Palácio do Planalto.
O próprio Haddad deixou isso claro em declaração feita ainda no entusiasmo
de sua passagem ao segundo turno. Pela transparência, o candidato merece
elogio, mas não o voto de quem não se identifica com a estratégia "barba,
cabelo e bigode" do seu partido.
O eventual controle sobre os três maiores orçamentos públicos do país
representaria concentração excessiva de poder. Um excesso de poder nocivo à
democracia, principalmente quando em mãos de um partido propenso a abusar dele,
como ficou demonstrado no julgamento do "mensalão". Por tudo isso, em
28 de outubro, voto Serra.
Sérgio Fausto, 50, é cientista político e diretor-executivo do Instituto
Fernando Henrique Cardoso
Fonte: Folha de S. Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário