"Campanhas propositivas" dificilmente vão além das generalidades
óbvias: mais saúde, educação, segurança
O confronto entre Fernando Haddad e José Serra no segundo turno começou mais
duro que de costume. Arriscado para os candidatos, melhor para os eleitores,
especialmente os que ainda não definiram seu voto. "Campanha de alto nível
é para quem tem rabo preso", disse um político notório pela agressividade.
Não acho. Alguns dos golpes mais baixos que já vi em campanha e na política em
geral partiram de políticos com um baita rabo.
Mas não vejo graça nas "campanhas propositivas". Elas dificilmente
vão além das generalidades óbvias: mais saúde, educação, segurança etc. Quando
trazem propostas específicas, dizem pouco da capacidade dos candidatos para
cumprir o que prometem.
Por isso presto atenção nos ataques. Mesmo quando exageram, eles permitem
checar os pontos fracos dos candidatos. Não só dos que são atacados. Alguns
ataques são tão baixos que expõem a ruindade do atacante. Boa coisa não vai
fazer no exercício do mandato o candidato que apela para dossiês forjados.
Desconfio que gostamos mais da ideia do "amplo debate" que da
realidade do debate. Se ele é realmente livre, as opiniões mais absurdas e
ofensivas, do meu ponto de vista, podem se manifestar, tanto dos políticos como
dos eleitores. Se puser muito filtro, esteriliza. Para as aberrações existe o
Código Penal.
Os candidatos e seus partidários se defendem como podem. Repudiam qualquer
crítica como "baixaria". Não negam o que é impossível negar, mas
desqualificam o crítico. Fogem de temas espinhosos alegando que estão fora da
pauta da eleição ou são politicamente incorretos. Rebatem fatos e números
desfavoráveis com dados distorcidos ou falsos. Garimpar grãos de verdade nessa
enxurrada de desinformação não é fácil. Poucos eleitores têm tempo e paciência
para isso.
Os confrontos face a face, como o de ontem, também podem ser monótonos ou/e
confusos. Mas dão chance de ver as diferenças entre os candidatos de maneira
condensada, ao mesmo tempo racional e intuitiva. Se ao menos não fossem tão
tarde...
Eduardo Graeff, cientista político, foi secretário-geral da Presidência na
gestão FHC
Fonte: Folha de S. Paulo
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