Os astros China, EUA e UE podem se alinhar em 2013, criando condições mais favoráveis
para o Brasil
Já estamos na parte final do ano e os olhos dos analistas se voltam para
2013. A grande pergunta que se coloca é se a economia mundial vai entrar -ou
não- em processo sistêmico de recuperação.
O cenário de "Fim do Mundo" - que teve um grande número de adeptos
até recentemente- não me parece mais uma alternativa com credibilidade no
mercado. Embora exista ainda o risco pontual de uma tragédia fiscal nos EUA
depois das eleições, a aposta maior contempla um acordo entre os republicanos e
democratas que a evite.
A maioria dos pessimistas de plantão está trocando para 2013 o cenário de
"Fim do Mundo" pelo de mais um ano de crescimento muito baixo e
continuidade do pessimismo entre os investidores e empresas. Nesse cenário, a
volta dos investimentos não vai se realizar, e a recuperação da economia
mundial vai demorar ainda para acontecer.
O Brasil é um dos exemplos mais claros de como o pessimismo em relação ao
crescimento econômico do mundo está afetando a taxa de investimentos. Mesmo
longe das áreas mais críticas, como Europa e EUA, e tendo o consumo interno
como a grande força por trás de seu crescimento, estamos vivendo uma
desaceleração muito forte por conta do verdadeiro colapso da chamada formação
bruta de capital fixo.
Tivemos nesta semana mais uma prova disso, com o aumento do número dos
postos formais de trabalho em setembro caindo 75% em relação aos números
anteriores a 2011 e igualando-se, depois de muitos anos, ao número de novos
entrantes no mercado de trabalho.
Gostaria de trazer hoje ao leitor da Folha um cenário alternativo para 2013.
Tenho dado a ele o nome de "O Alinhamento dos Astros", em homenagem à
minha mulher, que gosta de olhar para o Universo como fonte de inspiração
profissional.
Na astrologia, o alinhamento dos astros pode ser associado a condições
favoráveis para os acontecimentos humanos futuros. No caso da economia
brasileira, os astros relevantes são as economias da China, dos EUA e, em menor
importância, da União Europeia. Em minha opinião, eles podem se alinhar no
próximo ano, criando condições mais favoráveis para o Brasil.
O astro China é o que tem a maior importância sobre nós, via o canal dos
preços dos principais produtos primários exportados pelo Brasil. O economista
Fabio Ramos, da Quest, tem um intensivo trabalho de pesquisa sobre a correlação
entre o crescimento do PIB brasileiro e o índice CRB de commodities. Os números
impressionam...
Nesse sentido, os dados divulgados anteontem sobre a economia chinesa, ao
mostrar tendência sutil de recuperação da atividade industrial, do consumo e do
investimento em infraestrutura econômica, reforçam esse meu cenário de
recuperação. Embora sejam sinais ainda muito precários, um grande número de
analistas considerou-os como indicadores de que a economia vai voltar a um
crescimento sustentável.
Também nos EUA os mais recentes dados sobre o mercado de trabalho, a
construção civil e a produção industrial apontam para uma economia mais
sustentada do que a do passado recente. Se ocorrer o esperado acordo político
sobre a questão fiscal para 2013, o processo de cura que está ocorrendo na
maior economia do mundo vai se fortalecer e levar a uma retomada dos
investimentos privados.
Na Europa -terceiro astro de minha imagem-, vivemos um período de maior
otimismo em relação à estabilidade do euro e de menor pessimismo em relação aos
títulos soberanos dos países mais endividados do mediterrâneo. Embora a maioria
dos países vá continuar em recessão econômica, para o alinhamento dos astros
que visualizo, esse cenário de estabilidade institucional, sem colapso de sua
moeda única, já é suficiente.
Se estiver certo sobre o cenário para o próximo ano, as empresas brasileiras
devem retomar os investimentos para compensar o tempo perdido, pois o consumo
interno deve crescer 6% em 2012 e repetir a dose em 2013.
Se o governo sair de seu labirinto ideológico e acelerar o processo de
concessões ao setor privado, o investimento privado pode voltar a colocar o
crescimento econômico brasileiro na rota, que foi perdida nos últimos anos.
Luiz Carlos Mendonça de Barros, 69, engenheiro e economista, é
economista-chefe da Quest Investimentos. Foi presidente do BNDES e ministro das
Comunicações (governo Fernando Henrique Cardoso).
Fonte: Folha de S. Paulo
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