O presidente nacional do Democratas, antigo PFL, senador José Agripino (RN),
bateu na porta de 33 empresários de São Paulo em busca de ajuda financeira para
as campanhas dos candidatos do partido a prefeito de várias cidades. Apenas um
deles negou, justificando que nestas eleições não contribuiria com nenhum
partido. Dos demais, o dirigente recebeu dinheiro para distribuir às campanhas.
Como contrapartida, alguns deles fizeram um pedido: que o DEM seja mais
afirmativo na oposição ao governo petista e na defesa do ideário liberal.
Agripino sentiu-se estimulado pelo interesse do setor produtivo em
fortalecer o contraponto à hegemonia do PT no país. Empenhado na tarefa de
tentar evitar o desaparecimento do DEM, ou sua fusão com outra legenda, o
senador argumentou com os empresários que, para que o DEM tenha legitimidade
para falar e ser ouvido, precisa de respaldo das urnas. Sem isso, o partido não
ganha respeitabilidade. Na atual campanha eleitoral, isso significa vencer a
disputa pela Prefeitura de Salvador.
Ganhar a capital baiana, terceira maior cidade do país, significaria agregar
1,8 milhão de eleitores e dar ao Democratas uma vitrine administrativa. Se o
deputado Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM), o ACM Neto, for vitorioso e fizer
uma boa gestão, pode garantir sobrevida ao partido, cuja sobrevivência está
ameaçada pela perda de quadros e sucessivos escândalos que abateram lideranças
expressivas.
Ganhar capital baiana pode dar sobrevida a DEM
Parte da cúpula demista, com Agripino à frente, busca discurso para rebater
a tese da fusão. A avaliação desse grupo é que, unir-se ao PMDB significaria
tirar dos demistas a característica de oposição - o que é bom para alguns e
ruim para outros. Resultaria em uma "cobra de duas cabeças", dizem.
Já uma fusão com o PSDB representaria, para o DEM, ser "engolido" ou
"sugado" pelo atual parceiro de oposição, que não costuma ser
generoso nos acordos eleitorais locais.
Uma das feridas deixadas pela atual eleição municipal foi aberta na disputa
pela Prefeitura de Fortaleza (CE), onde o PSDB de Tasso Jereissati não apoiou
Moroni Torgan (DEM), que começou a campanha liderando a disputa. Os tucanos não
tinham candidatura considerada competitiva. Torgan acabou em terceiro lugar e
não foi para o segundo turno.
A eleição de Fortaleza pode abrir um novo cenário para o DEM em 2014, se o
partido conseguir sobreviver até lá. Na última terça-feira, Agripino recebeu em
seu gabinete o ex-deputado Ciro Gomes (PSB), ex-ministro de Lula e irmão do
governador do Ceará, Cid Gomes (PSB). Com a participação de Moroni Torgan,
Agripino e Ciro fizeram acordo para o DEM apoiar o candidato do PSB, Roberto
Cláudio, que disputa com Elmano de Freitas, do PT. Em troca, Torgan pode ganhar
espaço no governo do Estado.
A disputa é local, mas o DEM está de olho nas possibilidades de aliança em
2014. Agripino deixa claro que não haveria incoerência política em uma aliança
com o PSB para o Palácio do Planalto, com o objetivo de reforçar um projeto de
poder alternativo ao do PT. O dirigente demista diz que, se for procurado pelo
presidente do PSB, Eduardo Campos, governador de Pernambuco, está aberto à
conversa.
"O Democratas tem uma postura ideológica clara, na defesa da livre
iniciativa, na luta contra a carga de impostos e na defesa do setor primário.
Nós trombamos com o PT em muita coisa. Com o PSB, não. Os princípios do governo
do Eduardo Campos em Pernambuco e do Cid Gomes no Ceará em nada conflitam
conosco. Não há o impeditivo ideológico na forma de governar", diz o
presidente do DEM.
À procura de um discurso que evite o desaparecimento da sigla, o comando do
partido busca justificativa para comemorar o desempenho nas eleições
municipais. Até agora, elegeu 276 prefeitos, menos do que os 340 que tem hoje.
O partido atualmente não comanda nenhuma capital e agora ganhou Aracaju (SE) e
espera conquistar Salvador.
Além disso, o partido sofreu forte redução depois das eleições de 2008, com
a criação do PSD de Gilberto Kassab, que saiu das eleições municipais como a
quarta força política, com a eleição de 494 prefeitos. Com a criação da legenda
de Kassab, o DEM perdeu quase um terço dos deputados federais, um governador e
a Prefeitura de São Paulo.
Houve, também, escândalos de corrupção que abateram lideranças expressivas
do partido, como o ex-governador José Roberto Arruda (DF) e o ex-senador Demóstenes
Torres (GO).
Os dirigentes do DEM consideram positivo o fato de, apesar desses problemas
e de estar afastado do poder federal há dez anos, o partido ter ficado em
oitavo lugar no ranking do eleitorado conquistado (4,7 milhões), atrás de PMDB,
PT, PSDB, PSB, PSD, PP e PDT. O DEM conquistou a capital de Sergipe, espera
vencer em Salvador, ganhou cidades importantes em seus Estados, como Feira de
Santa (BA), Barueri (SP) e Mossoró (RN), e tem boas chances em Vila Velha (ES),
maior colégio eleitoral do Espírito Santo.
Apesar de enfrentar a trinca petista formada pela presidente Dilma Rousseff,
pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e pelo governador Jaques Wagner
(BA), todos em torno de Nelson Pelegrino (PT), ACM Neto terminou o primeiro
turno com uma pequena vantagem sobre o petista. Lula participou de evento da
campanha e Dilma gravou para a propaganda eleitoral do rádio e da televisão. No
segundo turno, Salvador é uma das prioridades para a presidente visitar. ACM
Neto é desafeto pessoal de Lula, desde que, da tribuna da Câmara dos Deputados,
disse que daria uma surra no então presidente.
Sem máquina administrativa para ajudá-lo, ACM Neto conta com a aglutinação
das forças políticas que se opõem ao PT no Estado, que reúnem ex-carlistas e
ex-adversários do grupo de ACM - como o tucano Jutahy Júnior e o pemedebista
Geddel Vieira Lima - e com a herança do avô ACM, para o bem e para o mal. Se
ganhar, pode dar sobrevida ao DEM. Uma derrota poderá ser a pá de cal na
tentativa de manter o DEM vivo.
Fonte: Valor Econômico
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