quinta-feira, 18 de outubro de 2012

Conflito entre Poderes - Eliane Cantanhêde


Não poderia haver momento pior para a reentrada do ex-ministro Antonio Palocci na cena política e, quase sorrateiramente, em reuniões com a presidente Dilma e com seu antecessor Lula.

Palocci, informa a repórter Natuza Nery, já participou ao menos de quatro encontros desses no escritório da Presidência da República em São Paulo. Apesar de não confirmados oficialmente, os temas são óbvios: eleições municipais, sucessão presidencial, julgamento do mensalão. Reuniões estratégicas, portanto.

O personagem não se coaduna com a cena, com o palco, com os protagonistas e com o momento, já que saiu pela porta dos fundos dos governos Lula e Dilma. De um, por frequentar uma casa suspeitíssima e pela quebra do sigilo bancário de um caseiro. Do outro, por somas de dinheiro fantásticas e mal explicadas.

Como a Folha revelou, Palocci multiplicou seu patrimônio por 20 entre 2006 e 2010 -neste último ano, já como coordenador da campanha de Dilma à Presidência. Um dos sinais explícitos de enriquecimento foi a compra de um apartamento por quase R$ 7 milhões, praticamente à vista.

Os autores da reportagem venceram o Esso, principal prêmio para jornalistas no Brasil, e acabam de ganhar também o Prêmio Latino-americano de Jornalismo de Investigação, do Instituto Ipys. Ou seja: as revelações foram cuidadosamente apuradas, impecáveis e inquestionáveis.

Ao voltar a participar de reuniões políticas com o ex e a atual presidente, apesar de tudo e de todos, Palocci confirma sua decantada lábia e sua vocação de fênix, sempre ressurgindo das cinzas e no centro do poder. Desta vez, às vésperas do segundo turno das eleições e no meio do julgamento do mensalão.

Por 5 a 4, o STF não abriu processo no caso do caseiro. Mas, se Lula e Dilma absolvem e absorvem Palocci, farão o mesmo com os réus. O Judiciário condena, o Executivo enaltece.

Fonte: Folha de S. Paulo

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