Plínio Fraga
Um encontro de poucos minutos no aeroporto foi a experiência direta, e em
momentos diferentes, que Caetano Veloso e Gilberto Gil tiveram com o deputado
Ulysses Guimarães, cuja morte completou 20 anos neste mês. Mas Gil e Caetano
desdobraram esses rápidos momentos num show de uma hora e 15 minutos, na última
terça-feira, em Brasília, para saudar a memória do líder peemedebista em 21
canções.
Caetano e Gil se disseram honrados de homenagear Ulysses. Fizeram o público
rir ao recordar as vezes em que se encontraram pessoalmente com o parlamentar
pela simplicidade do momento.
- Eu estava em Congonhas vindo do Rio, e ele vinha de Brasília. Estávamos na
fila do táxi, perto das seis da tarde, no inverno de São Paulo. Ainda não
havíamos nos falado e paramos lado a lado. Ele me olhou e disse:
"Gillllberto, está frio hoje" - imitou Gil o sotaque apaulistado de
Ulysses.
Música inspiradora
Caetano aproveitou a deixa e relembrou seu único encontro.
- No meu caso, a única vez que vi doutor Ulysses foi no aeroporto de
Salvador - disse, ouvindo alguém da plateia completar para riso geral: -Mas
estava quente!
Caetano cantou "Os argonautas" e explicou que compôs a canção a
pedido da irmã, Maria Bethânia.
- É uma canção que foi importante para doutor Ulysses por mencionar uma
frase da antiguidade clássica citada por Fernando Pessoa. Bethânia pediu que eu
fizesse uma canção e incluísse a frase que a tinha impressionado: "Navegar
é preciso, viver não é preciso".
- Eu fiz a canção, Bethânia gravou. Lendo os textos de Jorge Bastos Moreno
(publicados no GLOBO), vi que doutor Ulysses se ligou a essa frase e a tinha em
mente ligada à minha canção.
Após 18 anos sem se apresentar em conjunto, Caetano e Gil cantaram juntos
seis das 21 canções do show: "Desde que o samba é samba",
"Saudade da Bahia", "Panis et circensis",
"Cajuína", "Soy loco por ti, America" e
"Esotérico".
O espetáculo, em memória aos 20 anos da morte do deputado Ulysses Guimarães,
reuniu cerca de 600 convidados no Teatro Unip, na Asa Sul. Estavam presentes
políticos, ministros, atores e jornalistas, como os senadores Aécio Neves
(PSDB-MG) e Eduardo Suplicy (PT-SP), os ministros Garibaldi Alves (Previdência)
e Gastão Vieira (Turismo) e os atores Marcos Frota e Paula Burlamaqui.
Caetano elogiou a votação de seu candidato no Rio, Marcelo Freixo (PSOL),
disse que era esperada a vitória de Eduardo Paes (PMDB) e comentou a eleição em
São Paulo e em Salvador.
- Em São Paulo, acho que quero (Fenrnado) Haddad mesmo, que vai ganhar. A
Bahia precisa mudar mais. São Paulo também é uma mudança. Na Bahia é
complicado. Eu prefiro que ganhe o ACM (Neto). Se eu morasse lá... Passei a
minha vida com problemas em votar em ACM, me opondo ao avô dele. Mas adoraria
que ele concordasse comigo, que o nome do aeroporto de Salvador não deve ser o
nome do tio dele. Eu odeio isso. Parece o livro de Diogo Mainardi sobre o
Nordeste, "Polígono das Secas". Nome de ex-deputado que morreu em
acidente bota em aeroporto. É cafona. Não representa a Bahia. Eu adorava o tio
dele, era simpático, mas a ideia é péssima. Jacques Wagner devia ter tido peito
de mudar. Jacques Wagner é sujeito simpático, gentil, legal, mas um pouco
devagar.
Fonte: O Globo
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