segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Uma leitura do futuro próximo - Wilson Figueiredo

Com um olho no mensalão e outro na eleição, além de não perder de vista a sucessão a que se aplica com dedicação exclusiva, Lula finge dormir de olhos abertos enquanto o  julgamento dos mensaleiros segue seu curso pesado, à margem do rio poluído pelo despejo.

A algazarra das eleições municipais não consegue ofuscar completamente as manobras  preliminares da sucessão presidencial à espera de melhor oportunidade. Mandato alheio parece durar o dobro.Luila que o diga. Enquanto isso, a expectativa geral faz plantão à espera de resultados saneadores dos costumes. Só depois da eleição municipal o horizonte presidencial estará à disposição dos interessados.

Até lá, tudo não passa de hipóteses por ser ainda cedo para envolver os diretamente interessados em não deixar o assunto morrer. Ela e ele, a presidente e o ex,  não fazem cerimônia e, por aí, ele tem dito cobras e lagartos. Mas se engasga  nas concordâncias políticas e gramaticais indigestas. Não mudou. Tudo que diz é de caso pensado, estava na ponta da língua, antes ou depois do mensalão. Sem fazer cerimônia e por absoluta falta de convicção.

Os atores da sucessão estão por aí mesmo, têm nome e sobrenome, mas por enquanto não passam de candidatos a candidato. É certo que, de saída, duas figuras vão colidir e deixar conseqüências fatais a um deles. Pode-se dizer que será inevitável o pior para um dos dois. A presidente Dilma e o ex (Lula) têm contas a acertar. Trocam gentilezas num jogo de cartas marcadas. De vez em quando, um e outro esbarram em divergências,  mas a amabilidade ainda prevalece. Impossível saber quando, mas é inevitável o desfecho como ponto de partida da uma prova de campo, da qual apenas um nome ficará em cena para viver a história. A versão final caberá a quem sobreviver politicamente..

No caso específico da situação em que se encontram (ainda falta se desencontrarem), a presidente Dilma Rousseff e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva fazem de conta que não existe o problema a ser resolvido. As possibilidades vão se reduzir daqui por diante, sem que seja previsível quando as inconveniências sairão do caminho. Daí por diante, será para valer. Por enquanto, ambos correm por fora das hipóteses  aplicáveis à ociosidade política propriamente dita.

Está no inconsciente coletivo que a presidente e o ex-presidente são candidatos. O espaço social está preparado para a safra eleitoral que pode ser a última capaz de viabilizar uma social democracia que não precisa dizer. Basta ser. Faltou convicção para o que se deveria entender como social-democracia e não apenas rótulo entre trinta legendas vazias. Oposição que se volatiliza  em delicadezas, nos modos e nas  palavras, não convence no país que vem de  uma seqüência de ditaduras separadas por  vinte anos de liberdades e ilusões correlatas.Não foi saudável nem deu bom resultado a aposta em parlamentares que ficaram de cabeça baixa em troca dos mandatos que, entre o AI.5 e o fim daquela história, não podiam ser exercidos. A representação calada (mas remunerada)  falava pela ociosidade política que não lhe pedia mais do que fazer de conta.

Enquanto a hipótese Lula se mantém nas proximidades da presidente, para cortar a tempo manobras perigosas para o terceiro mandato, o vice (em caráter pessoal) da presidente ganha tempo e adia o momento de assumir a candidatura e se apresentar. Para ele, quanto mais tarde, melhor. Para ela é o contrário.

Para a presidente Dilma, sem segunda intenção, não perder de vista a oportunidade (e o direito ao segundo mandato) não a desobriga de ser afável com a hipótese de que  seu antecessor atravesse seu caminho. É aí que se localiza o ponto vulnerável do seu programa.  Já a candidatura de Lula está implícita no silêncio do próprio, e o deixa à vontade para retribuir, levemente constrangido, com silêncio e sorrisos.

A diferença de situação que separa Lula e Dilma não se limita a variantes eleitorais. As candidaturas são excludentes: um ou outra. Ele é candidato nato e passou a vida à espera de oportunidades que criaram a pororoca dos mandatos que, não podendo ser sucessivos, o obrigam a operar nos intervalos entre um e outro. A consagração da presidente nas pesquisas de opinião pública acentuam diferenças que não são do agrado do antecessor e a obrigam a ser mais cuidadosa do que convém ao exercício do mandato presidencial. Situações que pedem atenção o tempo todo são mais subjetivas do que parecem, e sempre exigem – mas só se percebe depois -    atenção especial a uma vulnerabilidade que atrai o imprevisível. É só esperar.

Fonte: Jornal do Brasil

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