"Sintam orgulho porque, se tem uma coisa que fizemos foi criar
instrumentos para combater a corrupção" (Lula)
Uma pesquisa de intenção de voto é uma pesquisa, é uma pesquisa. Se ela
detecta algo de surpreendente em relação às pesquisas anteriores, manda a experiência
que se aguarde as próximas. O que pareceu novo, por exemplo, pode não ter
passado de um soluço, um desvio involuntário de rota, um erro de amostragem. Só
configura tendência o que for atestado, no mínimo, por duas ou três pesquisas
consecutivas.
Na semana passada, o Instituto Datafolha registrou queda expressiva de
Russomanno, candidato do PRB, da Record e da Universal a prefeito de São Paulo.
Em relação à pesquisa anterior do próprio Datafolha, Russomanno teria perdido
cinco pontos. Uma semana antes, ele parecia inalcançável do alto dos seus 35%
de intenção de voto. Era observado com inveja pelos demais candidatos. Ainda
seria possível evitar que se elegesse? Como governaria sem experiência e apoio
partidário?
O Ibope conferiu-lhe 34% das intenções de voto entre os dias 22 e 24 de
setembro. O Instituto Vox Populi, os mesmos 34%. O Datafolha aplicou dez
pesquisas, de março último para cá. O Ibope, seis, desde maio. A trajetória de
Russomanno é ascendente nas pesquisas dos dois institutos — salvo o tropeço na
mais recente do Datafolha.
Russomanno pontuou assim no Datafolha: 19%, 21%, 24%, 26%, 31%, 31% 35%,
32%, 35% e 30%. Houve um soluço quando ele caiu de 35% para 32%, voltando para
35%. Os 30% podem significar outro soluço — ou não. No Ibope, Russomanno saiu
de 16% para 25%, 26%, 31%, 35% e 34%. Nas pesquisas dos dois institutos, José
Serra só fez cair.
"Devagar e sempre para o alto" resume a performance de Fernando
Haddad, candidato do PT. No Datafolha, ele foi de 3% para 18%. No Ibope, idem.
Quando oscilou para baixo foi dentro da margem de erro das pesquisas. O PT
conta com 30% dos votos de São Paulo no primeiro turno das eleições.
Lula está disposto a pagar qualquer preço para eleger Haddad, reforçando sua
imagem de milagreiro. Deu ordem a Dilma para comparecer ao comício que fechará
a campanha de Haddad. Até quando os adoradores de Dilma continuarão sonhando
com o dia em que ela dirá não a Lula? No Dia de São Nunca, talvez.
Credita-se aos ataques desfechados contra ele nas últimas semanas por Serra
e Haddad a eventual derrapagem de Russomanno. Mas, a se confirmar que ele
derrapou, Russomanno deveria ir se queixar ao bispo. Ou melhor: do bispo. Até
para votar os fiéis da Universal obedecem ordens do alto. Os católicos, não.
Foi-se o tempo em que padres e bispos animavam seu rebanho a se engajar em
campanhas. Pois no último dia 14, a pedido do arcebispo dom Odilo Scherer, a
Arquidiocese de São Paulo divulgou nota de repúdio à conduta do PRB, apontado
como "manifestadamente ligado à Igreja Universal". Católicos e outros
setores da sociedade paulistana despertaram com a nota. Resta saber se ainda a
tempo.
Quem pariu a candidatura de Russomanno que a embale. Ela tem pai e mãe — o
PT e o PSDB. Cada um deles achava que Russomanno só tomaria votos do outro.
Lula mandou que o PCdoB renunciasse à candidatura de Netinho de Paula para não
atrapalhar Russomanno. Alckmin mandou que o PTB reforçasse Russomanno,
indicando-lhe o vice. O prefeito Kassab, aliado de Serra, arregimentou
financiadores de campanha. Com dinheiro e algum tempo de propaganda, Russomanno
foi à luta. PT e PSDB esqueceram-se dele. Quando se lembraram... Bem.
Fonte: O Globo
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