“os
velhos falam do que fizeram, as crianças falam do que estão fazendo, os tolos
do que vão fazer” (Barão de Itararé)
As eleições municipais
passaram. Houve inúmeros debates sobre o tema. Não faltaram analises com visões
diferentes, contraditórias e mesmo convergentes. Eram dados pra lá, dados pra
cá. Foi uma inflação de análises, de números. Parecia até o IBGE, descrevendo os
elementos dos censos anuais. Uns preferiram quem teve mais votos em vereadores,
quem fez mais vereadores. Outros se dedicavam a examinar quem elegeu mais
prefeitos. Os números serviam para todos os gostos e preferências. A mídia
escrita, falada e televisiva forneceu bastante material. Colunistas políticos e
especialistas reproduziram muitas vezes, essas mesmas argumentações. Também não faltaram as ideias de
historiadores, sociólogos e cientistas políticos. Em suma, houve um pluralismo
de interpretações.
Estou convencido de que o eleitor demonstrou a
complexidade de nossas cidades e do país:o Rio votou no PMDB, São Paulo
preferiu o PT. Belo Horizonte, Recife e Fortaleza derrotaram PT. Vitória votou
no PPS. O norte, optou pelo PSDB em Belém e Manaus. No sul o eleitor foi de PDT
em Porto Alegre e Curitiba. Em outras palavras, houve uma fragmentação. Não
aconteceu o domínio – que muitos chamam, equivocadamente, de hegemonia -, de um
partido.
Torno a dizer, as eleições
de 2012 são águas passadas. Foi uma fotografia que não se reproduzirá. Como
afirmou o filósofo grego Heráclito, lá atrás, antes da nossa Era Cristã: “Tudo flui, nada
persiste, nem permanece o mesmo”. Marx reinventou em 1848 o pensador grego
assim: “Tudo que é sólido se desmancha no ar”. E não posso esquecer do poeta
Drumonnd de Andrade para reforçar o argumento do tempo passado,”um quadro
pendurado na parede”.
Daqui por diante começa uma nova conjuntura. As
circunstâncias já são outras. Caberá ao ator político ser protagonista do novo cenário. O que significa
isso? Não esperar o fato ocorrer. É a hora de olhar as circunstâncias e fazer
as escolhas. É a hora de fazer previsões. E, quem faz previsão tem um programa,
um objetivo e luta para realizar esse
programa e esse objetivo. E, o programa se faz, em primeiro lugar, com valores.
São tempos, por um lado, em que se tenta impor o
domínio de uma visão de política diferenciada da nossa Constituição. O que
quero dizer? Chamar a atenção para assim o chamado “constitucionalismo popular”,
de origem de teóricos do conservadorismo espanhol, depois, ganhou força em
segmentos de professores da Universidade Harvard e desembarcou em terras bolivarianas. O que defende esse “constitucionalismo”? Em resumo se
propõe uma democracia sem a divisão e separação dos poderes, sem autonomia do judiciário
e do legislativo. Em outras palavras, o poder executivo, legislativo e
judiciário se confundem numa só figura: o executivo.
São tempos, por outro lado, em que devemos dizer
e reafirmar, mais um vez, que estamos profundamente comprometidos com os
valores e as instituições da democracia representativa: o pluralismo, as
liberdades individuais e coletivas, os direitos humanos, a República, o avanço
da ciência, a preservação da natureza, a inclusão, a participação, a solidariedade, a
igualdade e a liberdade. Temos confiança
na democracia política, porque nela reconhecemos a permanente expansão daqueles
direitos. É nela que se torna visível a capacidade das mulheres, a esperança da
juventude, a experiência dos idosos, o trabalho inteligente e criativo de todos.
São tempos em que devemos assumir nossos
compromissos de respeito e consideração com os problemas da vida real das
pessoas. Ao assumir a responsabilidade para com o bem comum, mantemos o
compromisso de formular um pensamento e um agir reformista característico de
uma esquerda moderna, que com espírito constitucional, saiba falar a todo o
país e modificá-lo. Aí, me vem na lembrança àquela conhecida narrativa: ”Os filósofos
se limitaram a interpretar o mundo de diferentes maneiras; o que importa é
transformá-lo”. Nela há a unidade de dois momentos: o conhecer e o transformar.
É do mesmo autor um texto pouco conhecido: “O comunismo não é para nós um
estado que deve ser estabelecido, um ideal para o qual a realidade terá que se
dirigir. Denominamos comunismo o movimento real que supera o estado de coisas
atual”. Qual é a alma dessa narrativa, sua essência, o núcleo central? A
crítica ao real existente. Esse espírito que se está apagando, substituído pela
apologia ao “estado de coisas atual”.
Essas são algumas questões para reflexão. Podem ser
parte de provável programa para conquistar um objetivo. Qual é esse objetivo? No
campo político, substituir a atual coalizão governamental, sob o domínio do PT,
por uma coalizão, compartilhada, entre as atuais forças opositoras, ampliada
com setores da própria coalizão governamental. As últimas eleições demonstraram
quanto é complexo a conquista de tal objetivo. A partir desse novo momento, provavelmente,
não haverá muita fragmentação.
Nas circunstâncias atuais o cenário vai depender de
muitos fatores. Certamente, haverá uma candidatura do bloco do governo, mas
ainda há uma dúvida se será Lula ou Dilma (PT). Do campo oposicionista já surge
a candidatura do senador Aécio Neves (PSDB). Poderá haver outra candidatura,
essa saída da coalizão governamental, na figura do governador de Pernambuco,
Eduardo Campos (PSB), com uma proposta de “terceira via” Também há no cenário a
fusão de Aécio/Eduardo em uma única chapa. Outros candidatos poderão aparece.
Nesse quadro ainda há as definições das alianças e candidaturas
dos governos estaduais. Com Isso aumentam as dificuldades. Dentro da coalizão governamental
o PT forçará na direção de polarizar as disputas estaduais em função da
coalizão nacional (PT/PMDB). Com isso deverá voltar à disputa polarizada em
dois blocos.
O caminho para conseguir o objetivo é curto. Aí, arranco
da memória outra narrativa, dessa vez, do poeta sevilhano:
(...) “não
há caminho,
faz-se caminho ao andar.
Ao andar faz-se o caminho,
e ao olhar-se para trás
vê-se a senda que jamais
se há-de voltar a pisar.”
faz-se caminho ao andar.
Ao andar faz-se o caminho,
e ao olhar-se para trás
vê-se a senda que jamais
se há-de voltar a pisar.”
Rio, 4/11/2012
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