As paulistas Fabiana Cozza e Virginia Rosa e a baiana Mariene de Castro
fazem shows com repertório de peso
Lauro Lisboa Garcia
Neste 2012 em que se celebram os 70 anos de respeitáveis ídolos
transformadores da música brasileira - Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tim Maia,
Paulinho da Viola, Milton Nascimento, Jorge Ben, Nara Leão -, Clara Nunes
(1942- 1983) tem recebido belas homenagens por outras cantoras, que de alguma
forma influenciou.
As paulistas Fabiana Cozza e Virginia Rosa e a baiana Mariene de Castro
(todas trajando branco como a homenageada) são protagonistas de dinâmicos shows
com repertório de peso, incluindo sambas clássicos como O Mar Serenou (Candeia),
Conto de Areia (Romildo/Toninho Nascimento), Portela na Avenida e
Canto das Três Raças (ambos de Mauro Duarte/Paulo Cesar Pinheiro), Feira
de Mangaio (Sivuca/Glorinha Gadelha) e Coisa da Antiga.
Virginia Rosa Canta Clara, que encerrou temporada no Teatro Cleyde
Yáconis na semana passada, e Canto Sagrado, de Fabiana, que lotou o Auditório
Ibirapuera há duas semanas, têm planos de seguir em outros palcos. Mariene fez
sessão única no Espaço Tom Jobim, no Rio, para gravar o DVD Ser de Luz.
Tributo de um intérprete a outro sempre é complicado, porque as
comparações são inevitáveis e não raro soam como jogadas oportunistas, já que a
força dos ídolos influentes é sempre maior que a dos seguidores (vide Elis
Regina - Maria Rita). No entanto, Virginia, Fabiana e Mariene, ligadas pela
força dos orixás, jogam luz sobre a diversidade de Clara além do samba e a
trazem para universos sonoros pessoais, fugindo de imitações.
Virginia transita com desenvoltura pelo afro-pop, com toques de
samba-jazz e improvisos criativos. Fabiana baila (com elegante trabalho
corporal de J.C. Violla) com um pé no samba e outro no terreiro do candomblé.
Mariene - que não tem influência direta de Clara, como já declarou - busca
referências na baianidade e na cultura popular que apimentam o legado da
homenageada, "essa senhora dos ventos que cantou a Bahia lindamente".
As três, no entanto, cometem o mesmo errinho à toa em Conto de Areia,
cantando "desfia colares de contas", em vez de "colares de
conchas". No caso de Mariene várias canções tiveram de ser repetidas por
conta de pequenos deslizes na hora da gravação.
Morena de Angola (Chico Buarque) foi a que mais deu trabalho. Mesmo
acompanhando os versos projetados num monitor de vídeo ao fundo da plateia, a
cantora derrapou diversas vezes na intricada letra, cheia de aliterações e
assonâncias. Bem-humorada e radiante, porém, reverteu o problema a seu favor e
quando finalmente conseguiu cantar a letra inteira, depois de seis tentativas,
teve uma ovação do público, o que surtiu grande efeito.
As participações de Zeca Pagodinho em Coisa da Antiga (Wilson
Moreira/Nei Lopes) e Diogo Nogueira em Juízo Final (Nelson
Cavaquinho/Elcio Soares) não fizeram grande diferença. Mariene tem brilho
próprio. No número final, Um Ser de Luz (Mauro Duarte/Paulo Cesar
Pinheiro/João Nogueira), caiu num choro profundo que mexeu com o público.
"A emoção é linda, mas quero fazer bem feito", disse ela na tentativa
de repetir a canção, mas nem o diretor nem a plateia acharam que precisava. Foi
comovente.
Programa na tevê e show na Pompeia
O show Ser de Luz, de Mariene de Castro, com arranjos de Alceu
Maia e produzido pelo Canal Brasil em parceria com a gravadora Universal, vai
ao ar no dia 1º de dezembro, às 21h30, como ponto culminante de uma série de
homenagens a Clara Nunes no canal pago. Um dia antes, ela se apresenta no Sesc
Pompeia, cantando as músicas de seu novo e bom álbum, Tabaroinha. O show
tem outra sessão no dia 1º/12. Na gravação do programa em homenagem a Clara,
Mariene interpretou algumas canções do novo álbum que devem entrar como bônus
no DVD. Uma das vozes mais expressivas da Bahia contemporânea, a cantora baiana
e toda a banda, com maioria de músicos conterrâneos seus, passaram um mês no
Rio ensaiando o show. "Entendo hoje a saudade que o Brasil sente
dela", disse.
Fonte: O
Estado de S. Paulo
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