Como a eleição de prefeitos vai impactar o jogo de poder em Brasília? No
varejo, uns caciques perdem penas enquanto outros aumentam seus cocares. No
atacado, porém, a perda de cabos eleitorais será fatal para muitos deputados
federais e, por consequência, para as bancadas de seus partidos na Câmara.
DEM, PMDB, PR e PTB são os mais ameaçados de diminuírem em 2014 por causa de
2012. PSB e PT, ao contrário, tendem a medrar. Nada aponta, entretanto, para
uma revolução na balança partidária. A eleição municipal fez crescer mais
partidos nanicos e projeta uma dispersão de poder ainda maior que a já
existente na Câmara.
Há uma correlação muito forte entre número de prefeitos eleitos e tamanho
das bancadas que os partidos levam para Brasília dois anos depois. No último
ciclo eleitoral, o coeficiente foi de 0,9 num máximo de 1,0. Esse número não
implica relação de causa e efeito, mas há indícios de que o sucesso do partido
na eleição municipal esteja ligado ao número de deputados que ele elege.
Com uma série histórica mais ampla e metodologia científica, Leandro Piquet
Carneiro e Maria Hermínia Tavares de Almeida demonstraram a articulação dos
votos recebidos por um partido em diferentes eleições em artigo na revista
Dados em 2008. O que se colhe das urnas num ano semeia os resultados
subsequentes.
Em setembro passado, pesquisadores da Fundação Getúlio Vargas confirmaram a
relação de causalidade entre um pleito e outro e ainda estimaram que a eleição
de um prefeito aumenta em 20% os votos para deputado federal recebidos pelo
mesmo partido naquele município dois anos depois. Suas descobertas estão no
artigo Articulações interpartidárias e desempenho eleitoral no Brasil,
publicado pelo Cepesp da FGV.
Explicam os autores: "Essa vantagem veio do maior acesso dos prefeitos
aos recursos públicos, seu papel como implementadores de políticas públicas
locais ou como intermediários de transferências estaduais e federais, ou até
como emprestadores de credibilidade para as promessas eleitorais dos candidatos
do partido". Ou seja: prefeitos são bons cabos eleitorais.
No triênio 2008-2010, a proporção média foi de dez prefeitos para cada
deputado federal eleito por partido. Essa taxa variou muito de legenda para legenda.
O PT conseguiu converter quase três vezes mais deputados por prefeito do que o
PMDB, por exemplo. Isso pode mudar porque petistas avançaram nas pequenas
cidades.
Adaptadas as proporções, a Câmara semeada este ano tem o PT com favorito a
fazer a maior bancada em 2014, mas ainda assim menos de 20% dos deputados. O
PMDB tende a encolher mas manter o segundo maior número de cadeiras. PSD e PSDB
devem se equivaler em tamanho, e o PSB ameaça alcançá-los.
Em seguida viria um bloco que, em ordem decrescente, começaria no PP,
passaria por PDT e PR, desceria por DEM, PTB, PC do B, PRB e PV até o PPS. Uma
dezena de partidos nanicos completaria o plenário.
Haverá outros fatores em jogo em 2014, porém. No seu artigo de 2008,
Carneiro e Tavares de Almeida concluíram que "a votação para governador é
a variável que tem o maior efeito sobre as votações para deputado
federal". Logo, os partidos ainda têm como mudar seu destino até a próxima
eleição.
É a fila, tucano. O PSDB tem dois problemas similares mas diferentes que,
por aparência ou conveniência, vêm sendo debatidos como se fossem um só.
Renovação partidária independe de renovação política, ou o contrário. Um
partido pode arejar suas ideias com os mesmos caciques de sempre, ou pode
promover curumins com ideias gastas. Seria saudável juntar caras novas a
cabeças abertas, mas o ótimo é inimigo do bom. Renovação, de fato, seria fazer
a fila andar.
A opinião pública já deu o recado algumas vezes, basta querer ouvir. Quem
encabeçava a fileira e perdeu precisa reconhecer a derrota - qualquer uma
delas. É um gesto que equivale a sair da frente, dar lugar. Sem isso, a
sucessão entope. Tensões se acumulam até os conflitos implodirem o partido.
Para quem obstrui, melhor retirar-se do que ser expelido ou abandonado.
Quanto às novas ideias, é mais provável que provenham da necessidade do que
da hereditariedade. Na política, a repetição é mais forte do que a inovação. Se
o patriarca teve sucesso, o herdeiro tende a imitá-lo, não contradizê-lo. Os
exemplos se repetem, não importa o partido: Dirceus no PT, Brizolas no PDT,
Covas no PSDB, Magalhães no DEM, Alves no PMDB, Arraes no PSB.
O coco raramente cai longe da palmeira - ser Vladimir é exceção.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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