“Maluf corre o risco de ser preso se
sair do país. Genoino, se ficar.” Carlos Brickmann, jornalista
O medo e o ranger de dentes parecem ter cedido lugar à cautela e à sensatez
como atitudes mais indicadas para orientar o comportamento do PT diante do que
está por vir — a cadeia, destino certo de alguns dos seus festejados
ex-dirigentes, e a possível, embora incerta, investigação sobre o papel
desempenhado por Lula no esquema do mensalão. O PT estava pintado para a
guerra. Guardou as armas.
DEU-SE COMO definida a ausência de Dilma na posse do ministro Joaquim
Barbosa, o novo presidente do Supremo Tribunal Federal (STF). Lula não queria
vê-la por lá. Está furioso com o rigor que tem pautado as intervenções de
Barbosa durante o julgamento do mensalão. E pensar que Barbosa deve a Lula o
cargo que ocupa... E pensar que seu nome foi selecionado por Frei Betto,
assessor especial de Lula no primeiro governo dele.
AFINAL, PREVELECEU a moderação. Dilma viajará à Espanha. Mas voltará às
vésperas da posse de Barbosa na vaga aberta com a aposentadoria do ministro
Carlos Ayres Britto. Trata-se de um rito de Estado a presença do presidente da
República na posse do chefe do Judiciário. O contrário seria um desaforo. Ou
para ser exato: um ato de provocação. Presidente da República pode muito, mas
não tudo.
A CONDENAÇÃO do deputado João Paulo Cunha (PTSP), um dos envolvidos no crime
do mensalão, desatou no PT uma onda de ataques duros ao STF. Como se aquela
Corte fosse composta por homens fracos, covardes, que cedem à pressão de uma
imprensa ávida por cabeças e de uma opinião pública movida a manchetes e artigos.
ALGUÉM DEVE ter-se dado conta de que a rebelião do PT contra o STF poderia
agravar a situação do partido na reta final do julgamento. Aconselhado pelo
ex-ministro da Justiça Márcio Thomaz Bastos, Lula reuniu-se com José Dirceu e
José Genoino, e ordenou que baixassem a bola. Nada de nota oficial para
censurar o STF. Nem de manifestações hostis promovidas pela Central Única dos
Trabalhadores. A hora é de esperar para ver no que vai dar.
O PT IMAGINOU que o STF absolveria algumas de suas estrelas — Dirceu e
Genoino com certeza. Foram condenadas. O PT imaginou que, se condenadas, elas
acabariam poupadas de cumprir pena atrás de grades. Tudo sugere que não serão.
Para completar, o ex-publicitário Marcos Valério, um dos operadores do
mensalão, pediu para ser ouvido pelo procurador- geral da República e, em
depoimento assinado, disse que tem muito o que revelar.
REZA O PT para que Valério não tenha como provar o que a “VEJA” e o jornal
“O Estado de S. Paulo” publicaram nas últimas semanas — que Lula era o chefe do
mensalão; que Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda, participou do esquema da
compra de apoios políticos; e que ele, Valério, enviou para o exterior dinheiro
destinado ao PT.
TERÁ VALÉRIO abastecido ou tido acesso à caixamãe de todos os caixas dois
onde o PT esconde dinheiro obtido irregularmente? Será trágico para o partido
se isso tiver ocorrido. Valério quer contar o que diz saber em troca de menos
anos de cadeia. O procurador-geral da República poderá ou não aceitar a sua
proposta. Mas, caso Valério formalize uma denúncia contra quem quer que seja, e
desde que ela seja minimamente fundamentada, o procurador não poderá ignorá-la.
É SUA OBRIGAÇÃO providenciar para que uma denúncia de crime seja apurada.
Então talvez se venha a saber se Lula foi apenas um idiota, feito de bobo por
seus acólitos, ou mente ao país até hoje.
Fonte: O Globo
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