segunda-feira, 5 de novembro de 2012

STF ordena que ação de Valério no BC seja apurada

Operador do mensalão é suspeito de tráfico de influência em favor de bancos

O ministro do STF Joaquim Barbosa ordenou a abertura de inquérito para apurar se Marcos Valério fez tráfico de influência no Banco Central em favor dos bancos Rural e Econômico.

Segundo a PF, o operador do mensalão tentou influir no processo de socorro financeiro do Econômico e do Mercantil, que pertence ao Rural. Valério e os bancos negam irregularidades.

O empresário tem ameaçado fazer novas revelações sobre o escândalo e outros casos. Para ministros, ele tenta reduzir suas penas.

As punições podem se agravar com investigações desmembradas que venham a resultar em novas ações como no caso do suposto tráfico de influência.

STF manda apurar ação de Valério no Banco Central

Ministro determina investigação de tráfico de influência em favor de bancos

Defesa de empresário já condenado pelo mensalão teme que a situação dele se agrave com novos processos

Flávio Ferreira

BRASÍLIA - O STF (Supremo Tribunal Federal) determinou a abertura de investigação para apurar se Marcos Valério de Souza, apontado como o operador do mensalão, realizou tráfico de influência no Banco Central em favor dos bancos Rural e Econômico.

A nova apuração, encaminhada para a Justiça Federal do Distrito Federal, foi decidida em agosto pelo ministro Joaquim Barbosa, após a Procuradoria-Geral da República dizer que há "indícios de que foram praticadas condutas ilícitas" nas gestões feitas por Valério no BC -que avaliava processos de socorros financeiros às instituições.

Marcos Valério já foi condenado no julgamento do mensalão a mais de 40 anos de prisão e, nas últimas semanas, tem aventado a possibilidade de revelar mais detalhes sobre esse e outros casos envolvendo petistas.

A defesa do empresário enviou um fax ao STF pedindo para ele ser ouvido e relatando temer por sua vida. Ministros entenderam que a movimentação faz parte de uma estratégia de Valério para tentar reduzir as penas.

A defesa de Valério receia que a situação dele se agrave ainda mais, no futuro, com investigações desmembradas do processo do mensalão e enviadas para as primeiras instâncias das Justiças de SP, Minas e Distrito Federal.

Essas apurações não ficam no STF por não envolver pessoas com foro privilegiado.

Reuniões no BC

Relatório da PF (entregue em 2011) afirma que as investidas de Valério tinham como alvo os socorros financeiros ao Banco Mercantil de Pernambuco, do qual o Rural era um dos donos, e ao Banco Econômico. Esses processos estavam em curso no BC na época do mensalão.

O trabalho da PF aponta que Valério fez 17 reuniões no BC entre 2003 e 2005, oito delas sobre o levantamento da liquidação extrajudicial do Banco Mercantil de PE, nas quais se apresentava como representante do Rural.

"Pode-se concluir que de fato Marcos Valério tentou de alguma forma influenciar diretores do Banco Central do Brasil para que adotassem decisões favoráveis ao Banco Rural nas negociações voltadas ao levantamento da liquidação extrajudicial do Banco Mercantil de Pernambuco, decisões que poderiam resultar em ganhos que giravam em torno de R$ 700 milhões", diz o relatório da PF.

Para o delegado Luís Flávio Zampronha, "Valério não obteve sucesso na investida". Mas a conduta será investigada porque a configuração do crime de tráfico de influência não exige a consumação dos atos pretendidos pelos envolvidos, bastando "solicitar", "exigir", "cobrar" a vantagem, diz o Código Penal.

No julgamento do mensalão, os ministros do STF já reconheceram que o Rural foi peça-chave no valerioduto e em troca buscava obter vantagens no governo, com a ajuda de Valério e de José Dirceu.
A dona e ex-presidente do banco, Kátia Rabello, que é ré no mensalão, admitiu que teve contatos com Valério e Dirceu sobre a situação do Mercantil de Pernambuco.

Em relação ao Banco Econômico, cuja liquidação está em curso até hoje, o relatório cita o depoimento do dono do banco, Ângelo Calmon de Sá.

A PF relatou que Calmon de Sá disse ter se reunido com Valério de cinco a dez vezes.

O banqueiro afirmou, segundo a Polícia Federal, que em todos os encontros e contatos telefônicos com Marcos Valério "o único assunto discutido era a situação do Econômico junto ao Banco Central, mas que nunca esteve no órgão na companhia do empresário mineiro".

Fonte: Folha de S. Paulo

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