Para ativista, se o cidadão vê que um ministro vai para a prisão, ele vai
pensar dez vezes antes de cometer o mesmo crime
BRASÍLIA - O mensalão é visto com um otimismo moderado pela comunidade
internacional, segundo o diretor para Américas da Transparência Internacional,
o mexicano Alexandro Salas. Para ele, o julgamento que condenou José Dirceu e
outros políticos brasileiros prova que as ações para frear a corrupção não se
restringem ao Executivo. Em entrevista ao Estado, o ativista elogiou a
presidente Dilma Rousseff e ações como a Lei de Acesso à Informação, mas
destacou que o tamanho do País impede que as mudanças no âmbito federal cheguem
aos Estados e municípios.
O Brasil tem se mantido estável nos rankings de corrupção da Transparência
Internacional, em 73º entre 183 países. Até que ponto isso é positivo?
Nos últimos três anos tem havido várias iniciativas positivas para frear a
corrupção. Por exemplo a Ficha Limpa, a Lei de Acesso à Informação, a atitude
forte da presidente Dilma que tirou membros da sua equipe. O grande problema é
que o que se passa em nível federal não é reflexo de todo o País; o avanço que
há no País se dá de diferentes maneiras.
Quais seriam outros avanços no combate à corrupção?
O Brasil foi muito bem no uso da urna eletrônica. Muitas vezes parece
somente uma medida de modernização pelo Estado, mas é muito importante para a
luta contra a corrupção. Além disso, o Estado tem aberto as informações
disponíveis, como os programas sociais, na divulgação dos salários.
Como o sr. vê o julgamento do mensalão?
O mensalão é uma amostra de que não é somente o Poder Executivo que precisa se
esforçar, mas também a Justiça na luta contra a impunidade. A comunidade
internacional vê com um otimismo moderado o mensalão. É um caso, mas é
importante que a Justiça faça mais, ou serão apenas alguns presos.
A condenação do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu pode evitar corrupção
no futuro?
É um efeito muito grande do mensalão. Se vejo que o ministro Dirceu termina
na prisão vou pensar dez vezes antes de roubar o dinheiro da cidadania. Tem um
papel educativo.
A pressão popular que se notou em torno do julgamento pode significar uma
mudança da percepção da corrupção pelos brasileiros? O que influenciou isso?
Parece que o momento em que o Brasil começa a ser um país mais aberto ao
mundo e o mundo começa a vê-lo como uma potência do futuro, como um mercado
econômico importante, e passa a ser uma influência importante na América
Latina, os cidadãos são mais conscientes e estão mais expostos ao mundo. Acho
que, quando o cidadão descobre coisas que arranham a imagem do seu país,
começam a reclamar disso. / D.A.
Fonte: O Estado de S. Paulo
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