A prévia do PIB medida pelo Banco Central por meio do Índice de Atividade
Econômica (IBC-Br) acusou forte retração em setembro: 0,52% em relação a
agosto.
Não faz sentido a alegação de que essa derrapada surpreendente foi gerada
pela falta de quatro dias úteis em setembro. O calendário deste ano já estava
previsto desde a sua instituição, pelo papa Gregório XIII, em 1582.
Tem mais a ver com a irregularidade da produção industrial, que oscila de
acordo com os estímulos temperamentais do governo. Em agosto, por exemplo,
deveriam terminar as isenções de IPI para veículos e aparelhos domésticos,
depois renovadas até dezembro. O consumidor antecipou as compras em agosto e as
reduziu em seguida. Mas isso não explica muito.
A baixa reação da indústria é fato sobejamente comentado, não precisa ser
repisado. Dá para dizer que os números bastante negativos de setembro não devem
se repetir tão cedo. Mas ainda não dá para garantir a robustez do sistema
produtivo com que conta o governo nos meses seguintes e, principalmente, em
2013.
Este ano acaba com nível de incerteza maior do que em 2011. O Banco Central
recita o mantra de que a convergência para a meta de inflação, de 4,5%, será
obtida em qualquer momento de 2013, "ainda que de forma não linear".
Mas há dúvidas de que essa aposta se cumpra.
O mercado de trabalho vai na contramão da redução de custos de produção.
Mesmo que o próximo reajuste do salário mínimo não seja de 14,1%, como em 2012,
a falta de mão de obra deve elevar a remuneração do trabalho. Se, neste ano, o
PIB cresce menos de 1,5% e há pleno emprego, é inevitável que, com avanço do
PIB acima da reposição demográfica do mercado de trabalho, esse fator se acentue.
Também jogam contra o controle da inflação a necessidade de reajustes dos
preços dos combustíveis e a tendência à alta da cotação do dólar
(desvalorização do real). O Banco Central reconhece, ainda, que a política
fiscal do governo é expansionista. Ou seja, despesas públicas sobem acima do
PIB – um dos fatores que contribuíram para a atual esticada dos preços. O
governo promete que, em 2013, cumprirá sem os truques conhecidos a meta do
superávit primário de 3,1% do PIB. É o mesmo que foi dito tantas vezes ao longo
do ano.
Enfim, o próprio Banco Central deixou de ancorar as expectativas. Nenhuma
instituição de peso projeta a convergência da inflação para a meta em 2013. A
pesquisa Focus, que ausculta semanalmente cerca de 100 instituições, aponta projeção
média de 5,4% no ano que vem.
Além de terem desarrumado a casa, as mexidas no tripé da economia (câmbio
flutuante, meta de inflação e superávit primário de 3,1% do PIB) agravaram a
incerteza. O Banco Central e o ministro Guido Mantega descarregam a maior parte
da responsabilidade pelo baixo avanço e pela inflação acima da planejada na
piora da crise externa e nas políticas perdulárias dos grandes bancos centrais.
É desculpa sem pé nem cabeça. Rússia, México, Chile, Indonésia, Coreia do Sul e
África do Sul são emergentes que terão avanço do PIB superior ao do País e
inflação menor. E, no entanto, a crise atinge a todos. Alguns com mais
virulência do que o Brasil.
Teste. Nesta quarta-feira, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama,
defendeu o aumento de impostos para os mais ricos. A reação dos políticos do
Partido Republicano será um bom teste sobre qual será a atitude deles nas
negociações depois da derrota nas eleições presidenciais.
Fonte:
O Estado de S. Paulo
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