Passada a letargia do primeiro semestre, parece confirmar-se o prognóstico
de lenta recuperação do PIB neste final de ano, até o ritmo de 3,5%
anualizados, que, espera-se, poderá se manter em 2013.
Os dados da indústria e das vendas no varejo apontam melhora desde o
terceiro trimestre, sobretudo no setor de automóveis.
Seria um erro, porém, considerar o dinamismo setorial um indicativo forte do
restante da economia. Um fator importante para o crescimento anda fraco: o
crédito ao consumidor está estagnado, e a capacidade de endividamento das
famílias parece chegar ao fim.
Os estímulos ao consumo, úteis como medida pontual para sustar a
desaceleração, não têm, contudo, restaurado o funcionamento da máquina
produtiva. As evidências indicam que, agora, o gargalo está na capacidade de
produção.
Custos crescentes dificultam o investimento privado. A inflação salarial de
10% ao ano, fruto de um mercado de trabalho apertado, está bastante acima dos
ganhos de produtividade e explica em parte o decepcionante desempenho da
indústria. A produção de bens de capital teve queda de 12,4% de janeiro a
setembro deste ano, na comparação com 2011.
Os indicadores de confiança empresarial até têm melhorado, mas nada muito
animador. Sem a retomada forte do investimento, dificilmente o PIB superará, de
forma sustentável, os 3,5% esperados.
A combinação de escassez de mão de obra e consumo pressionado resulta em
mais inflação. Não há perda de controle, mas um crescimento do PIB de 2% ao ano
(média de 2011 e 2012) e uma inflação de 6% começam a compor o cenário mais
temido: a economia patina, mas os preços sobem.
No curto prazo, a queda recente dos preços agrícolas e a expectativa de
redução nas tarifas de eletricidade permitem projetar inflação na marca de 5,5%
ao ano.
Não se pode descartar, porém, uma escalada para cerca de 6,5%, teto da meta
de inflação. Se isso ocorrer, com o PIB em 3,5%, o governo terá mais
dificuldade para manter a economia em ordem.
A melhor forma de minimizar tal risco é insistir em medidas que reduzam os
custos e aumentem a produtividade. O governo dá sinais de que atenta para esses
imperativos, ao reduzir preços de energia e desonerar a folha de pagamento em
alguns setores, mas os resultados ainda tardarão. O clima não melhorará tão
cedo a ponto de despertar o espírito animal dos empresários da hibernação.
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