Denise Madueño, Eugênia Lopes e Rosa Costa
BRASÍLIA - O PPS anunciou ontem que vai entrar com uma representação no
Ministério Público, na terça-feira, para a abertura de investigação a fim de
apurar a participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no esquema do
mensalão. O PPS chegou a anunciar que o DEM e o PSDB assinariam a
representação, mas os partidos decidiram aguardar uma manifestação do
procurador-geral da República, Roberto Gurgel, antes de decidir sobre o pedido
de nova investigação.
Reportagem do Estado revelou que o empresário Marcos Valério prestou novo
depoimento ao MP, em setembro, citando Lula e o ex-ministro Antônio Palocci.
Na representação que será protocolada na procuradoria, o PPS defende a
aplicação para Lula do mesmo entendimento que levou à condenação do ex-ministro
José Dirceu pelos crimes de corrupção ativa e formação de quadrilha. O Supremo
Tribunal Federal aplicou o chamado "domínio do fato".
Outros partidos da oposição, DEM e PSDB consideram, no entanto, prematuro
acionar o MP sem uma confirmação do inteiro teor do depoimento de Valério.
"Por que vamos entrar agora com um pedido de investigação sem ter a
confirmação ainda do depoimento do Valério ao Ministério Público? Isso vai ter
uma sequência. Vamos aguardar uma manifestação do Ministério Público",
argumentou o presidente nacional do DEM, senador José Agripino Maia (RN).
"É mais prudente nós aguardarmos uma manifestação do procurador. Essa denúncia
é muito grave", disse o líder do PSDB na Câmara, deputado Bruno Araújo
(PE).
O presidente do PPS, deputado Roberto Freire (SP), reagiu com virulência à
decisão do DEM e dos tucanos de não assinar o pedido de investigação. "Se
eles não quiserem assinar, problema deles. Não tenho que esperar mais
nada", afirmou.
Apontado na denúncia do MP como o operador do mensalão, Marcos Valério foi
condenado no julgamento do Supremo pelos crimes de corrupção ativa, formação de
quadrilha, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e peculato. Valério estaria
propondo ao MP sua inclusão no programa de proteção à testemunha em troca de
fornecer mais detalhes sobre o esquema.
Durante o julgamento, a maioria dos ministros do Supremo considerou que
houve desvio de dinheiro público para a compra de votos de parlamentares e
apoio político nos primeiros anos do governo Lula. De acordo com o depoimento
revelado ontem, o empresário teria recebido ameaças de morte.
Líder. No Senado, o tucano Aloysio Nunes (SP) disse que há o convencimento
de que Lula sabia de tudo. "Não consigo imaginar que ele não soubesse de
nada, é óbvio que tendo sido provada a existência da quadrilha, que o líder
maior sabia de tudo e consentia. Ele é igualmente responsável, como deve ter
dito Marco Valério." O senador lembra que foi Lula quem detonou a aliança
política com o PMDB que daria apoio ao seu governo.
O senador Cristovam Buarque (PDT-DF) afirma que desde o início há muita
curiosidade sobre o que o operador do mensalão tem a revelar. "Pesam as
suspeitas de que ele tem muito mais a dizer do que já disse até aqui",
destaca. Cristovam diz temer que a verdade dos fatos termine levando o PT a
perder o controle de "grupos menos civilizados, capazes de canalizar sua
frustração para violência".
A senadora Ana Amélia (PP-RS) lembra que Valério "é a chave, era o
operador, recebia ordens e executava". Ela prevê que se o empresário
comprovar suas afirmações, a situação de Lula ficará difícil.
Para o líder do PSDB, senador Álvaro Dias (PR), o operador do mensalão
revela que foi enganado na suposta promessa de ser poupado no julgamento do
mensalão. "Não foi o que ocorreu, faltou a blindagem, o produto não foi
entregue".
Fonte: O Estado de S. Paulo
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