Não é só no PSDB que há resistência à conjugação do verbo renovar. José
Serra reagiu ao alerta do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso sobre a
necessidade de o partido apostar em nomes novos dizendo que essa agenda "é
do PT".
Mas entre petistas também há oposição à ideia sob o argumento de que ela
serviu para o caso de São Paulo, mas não necessariamente deve ser uma regra
aplicada ao partido como um todo.
O deputado Cândido Vaccarezza, por exemplo, andou dizendo que a
"renovação" foi mal entendida. O que era uma estratégia eleitoral
acabou sendo vista como um princípio a ser observado.
O presidente da Câmara, Marco Maia, numa frase desvenda as razões da
resistência: "Se for conferir nas bases, há manutenção de poder das
antigas lideranças".
Quer dizer, não é assim de estalo que se removem raízes há muito tempo
plantadas. Inclusive porque novo não significa necessariamente bom, muito menos
é prudente menosprezar o valor da experiência e o poder do apego de quem tem
seus espaços consolidados.
A respeito disso o DEM tem muito a contar sobre sua radical e malsucedida
manobra de mudança, quando achou que abandonaria a sigla PFL, afastaria a velha
direção e estaria tudo resolvido.
O experimento revelou-se no geral desastroso, não obstante venha da nova
geração um êxito significativo do partido nessa eleição, com ACM Neto em Salvador
aos 33 anos, caçula dos novos prefeitos.
Comprovando a relatividade dos fatos, porém, o outro eleito pelo DEM foi o
veteraníssimo João Alves, novo prefeito de Aracaju aos 71 anos, o mais velho
dos 26 vitoriosos nas capitais.
Em favor dos "renovadores" note-se que o eleitorado corroborou a
tese. A taxa de reeleição foi a mais baixa desde o advento da renovação de
mandatos: das 85 maiores cidades do País, os atuais prefeitos perderam em 50,
sendo que nas capitais apenas seis foram reeleitos.
Se o critério for de idade - que objetivamente não serve para nada, mas
compõe o quadro -, 56% dos 26 eleitos nas cidades-sede dos Estados têm menos de
50 anos.
Dado mais consistente diz respeito à influência dos governadores: apenas
nove obtiveram sucesso.
Significa que ao menos nas grandes cidades o peso da máquina não é páreo
para a vontade autônoma do dono do voto.
Tom maior. O senador Álvaro Dias não está entre os tucanos que usam o bom
desempenho do PSDB em algumas localidades, notadamente do Norte e Nordeste,
para evitar publicamente a autocrítica.
Celebra os êxitos, mas também pondera que o partido deve tirar lições de
resultados adversos, com destaque para São Paulo e Paraná.
Ele não acha que o caminho seja a renovação pura e simples. "Nossa ação
é que precisa ser mais contundente", diagnostica e conclui: "Com esse
discurso morno não vamos a lugar algum".
Risca de giz. Confirmada a vitória de Fernando Haddad, o prefeito Gilberto
Kassab telefonou para a cúpula do PT a fim de deixar patente que a alegada
lealdade a José Serra é página virada.
Não só por isso, mas principalmente pelo conjunto da obra, muita gente no
PSDB defende que o partido declare oficialmente Kassab como adversário.
O problema é quando, como e se os tucanos farão mesmo essa demarcação de terreno.
Vai depender da construção de um difícil entendimento interno.
Troca de guarda. A direção nacional do PSDB olha o pífio e há tempos
decrescente desempenho do partido no Rio de Janeiro e conclui que não pode
enfrentar mais uma eleição sem uma reformulação completa na seção regional do
terceiro maior colégio eleitoral do País.
Fonte: O Estado de S. Paulo
Nenhum comentário:
Postar um comentário